Resposta da secretária: “Sugira mudar para o sábado. A mulher já entrou no mercado de trabalho faz tempo”

Resposta da secretária: “Sugira mudar para o sábado. A mulher já entrou no mercado de trabalho faz tempo”

Fui numa reunião de responsáveis num sábado na escola que dou aulas no Rio.

Chegaram lá algumas mães que não poderiam ficar, pois trabalhavam.

Estavam até mesmo de uniforme do trabalho, foram dar satisfação, pois é obrigatório o comparecimento para receber a bolsa-esmola-para-manter–filho-na-escola.

Queriam pegar o boletim, assinar a lista, comprovando a presença, e sair.

Porém, a direção não deixou, pois é ordem ordenada pra ser cumprida sem pestanejar da secretaria que teriam que assistir toda a reunião, qualquer um, independente de qualquer coisa.

Mesmo que tivessem que trabalhar.

Eu achei meio radical, fiquei com pena de umas delas, com cara de coitada, dizendo “vou chegar atrasada, meu patrão vai me descontar”, coisa e tal.

Mas, quem sou eu, um mero professor, pra entender de educação, né?

Quem entende de educação e de relações pessoais é o pessoal da secretaria, né? Afinal, não são colocados lá à toa.

Mas, eis que estou facebookeando por uma comunidade de professores da rede municipal de educação do Rio de Janeiro, e alguém copiou e colou a seguinte conversa travada com a secretária no twitter:

[Pergunta da professora:] @ClaudiaCostin, Fui informada que para poder participar da reunião escolar da minha filha, tenho que levar uma falta no meu cartão de ponto.

[Resposta da secretária:] @******** Sugira a escola de sua filha fazer como a rede, reuniões aos sábados. A mulher já entrou no mercado de trab faz tempo.

Putz!

Se é tão importante a presença nas reuniões para aqueles que recebem a bolsa-esmola-para-manter–filho-na-escola, não é para os filhos dos professores?

Somente “sugerir à escola” vai dar abono de ponto? Ou, se a escola não mudar, qual a outra ideia? Obrigar a diretora da outra escola a mudar a reunião para o sábado?

A senhora secretária esqueceu que fazer reuniões aos sábados equivale, na escola particular, a pagar hora extra aos trabalhadores de lá? Ops!… e os daqui, como fica a situação quando vão aos sábados – que NÃO É horário de trabalho?

Preciso dizer mais alguma coisa sobre como os professores estão sendo tratados nesta rede? Ou preciso desenhar a suástica para que você entenda?

Uma última pergunta: ignora a secretária que a classe trabalhadora muitas vezes trabalha até mesmo aos sábados? Como fica?

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Enojado e enjoado desta rede

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Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

5 thoughts on “Resposta da secretária: “Sugira mudar para o sábado. A mulher já entrou no mercado de trabalho faz tempo”

  • 08/11/2012 em 12:19
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    E isso sem contar com o tanto que o educador também trabalha em casa, pesquisando,estudando, se atualizando, preparando e corrigindo: testes, provas, reuniões pedagógicas, projetos, etc.
    É muito trabalho!!
    E ainda trabalhar aos sábados, DE GRAÇA?????????????? Isso é abuso!!!!!!!!!!!!
    Simples assim.

    Quanto a forma de tratar os pais, vi muitos absurdos desse tipo também, Declev. Chega a dar vergonha!… Se os administradores fossem, ao menos, administradores escolares (uma das especialidades dentro da Pedagogia), mas nem isso são!

    Adorei a expressão “bolsa-esmola-para-manter–filho-na-escola”; ótima definição! Criativa, irônica e bem realista, Declev!

    Abraços,
    Regina.

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    • 08/11/2012 em 14:36
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      É Regina… aí todo mundo tem que cumprir as “regras” impostas.

      Mas as regras são esquecidas quando é do outro lado…

      abraços,

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  • 08/11/2012 em 18:05
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    É verdade, Declev… É o que acontece.
    E isso serve pra pelo menos uma coisa boa: percebermos se não reproduzimos com os nossos alunos esse comportamento de “regras impostas” sem ouvi-los para nada…
    Todos tem o direito de participar!
    Beijos…

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  • 11/11/2012 em 16:55
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    A reunião na escola da minha filha é semrpe numa quinta, às 16h. Só estão presentes os professores que dão aula na quinta. Natural, mas não há outro canal de comunicação… Se eu preciso conversar com a que (não) dá aula na segunda, azar o meu. Como trabalho a 2h de distância da escola e largo às 17h, não dou as caras. Com isso, passei o ano inteiro sem poder perguntar à professora de português pra que ela pede livros paradidáticos se não os trabalha em classe e na prova pergunta qual era o prato favorito do personagem x, informação que eu, que me dei ao trabalho de ler o livro, classifiquei como inútil. Reunião de pais serve pra quê, mesmo?

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  • 12/11/2012 em 00:52
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    Aline,
    Acho que reunião de professores tinha que ser com todos os professores presentes sim. Sempre achei isso. Mas como existe a questão dos professores terem que trabalhar em várias escolas para terem um salário decente, essa questão das datas que atendam a todos fica realmente difícil. Um jeito de melhorar isso e que já fizemos em escola que trabalhei, é variar o dia da semana e o horário da reunião de professores a cada mês, ou pagar um dia extra para eles, que poderia ser sábado, porque trabalhar de graça é um abuso com qualquer profissional, não acha?!
    Um abraço,
    Regina.

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