O fracasso é de quem?

O fracasso é de quem?

O êxito tem vários pais
Órfão é o seu revés
(Fracasso – Pitty)

A situação caótica da educação brasileira tem raízes diversas e complexas. Quero, porém, abordar uma questão que poucas pessoas dispensam atenção – o discurso pedagógico. Nos últimos anos, os professores foram doutrinados a pensar que são inteiramente responsáveis pela educação (seja o sucesso, seja o fracasso), como se a relação professor-aluno fosse o único elemento a se considerar neste processo. As produções acadêmicas de psicólogos, pedagogos e psicopedagogos são unânimes em apontar o culpado pela decadência do ensino no país – o magistério. Claro que não dizem isso diretamente, mas é indiscutível que esta ideia está implícita em suas teorias.

A minha intenção é não cair no lugar comum e dizer que o sistema está falido devido à má formação e atualização dos professores, da desvalorização moral, social e econômica dos docentes, da falta de infraestrutura da maioria das escolas do país, enfim, isso todos já sabem, não se discute.

O que estou propondo é ampliar este debate. Deste modo, vou citar um estudioso do assunto, Júlio Groppa, adorado por todos aqueles que compartilham o prazer de falar mal do magistério, sobretudo público. Trata-se de uma análise rápida, apenas com a intenção de ilustrar o que pretendo repudiar.

O senhor Júlio Groppa foi escolhido pela secretaria de educação da cidade onde leciono para apresentar uma palestra intitulada “A indisciplina na sala de aula”. Na ocasião, deixou os docentes revoltados com sua arrogância colocando toda a culpa da desobediência dos alunos nas costas do professorado. Se levarmos em consideração que as palestras deste profissional são muito requisitadas pelas secretarias de educação pelo Brasil afora, trataremos de afirmar que é um discurso comprado (ou assumido) pelo Estado.

Em uma de suas entrevistas, o “professor” Júlio Groppa afirma que a questão da violência na escola é tratada com alarde pela imprensa e pelos professores. A situação é bem menos grave do que parece. Quando questionado sobre a posição dos docentes em falar que o problema está na (falta de) educação familiar do aluno, o referido autor é categórico ao dizer que o professor deveria “se silenciar” ao abordar questões que estão fora da sua alçada. Sem comentários!

Em outra ocasião, num artigo intitulado “da palavra e o professor: notas sobre pregar, narrar e democratizar”, o senhor Júlio Groppa busca no século XVII um texto referencial para defender suas teses. Trata-se de um sermão do Padre Antônio Vieira discorrendo sobre o fracasso das pregações do seu tempo. Desprovido de qualquer análise do contexto histórico de Vieira, o “educador” Júlio Groppa faz suas as conclusões do padre: o fracasso é culpa do pregador.

O estudioso da USP não está sozinho. Faz um bom tempo que as faculdades de pedagogia não fazem outra coisa senão culpabilizar os professores pelo insucesso da aprendizagem dos seus alunos. Poderia aqui citar outros inúmeros profissionais renomados que compartilham este pensamento.

Muitos educadores adoram trazer experiências bem sucedidas na Europa e adaptá-las ao Brasil. Claro que eles se esquecem que lá a educação é levada a sério. Os professores recebem um salário compatível com sua importância social. Pratica-se a verdadeira democratização do ensino, ou seja, a educação pública é frequentada por todos. Desta forma, toda a sociedade realmente se preocupa com a qualidade de suas escolas. No Brasil, quem tem dinheiro simplesmente manda o filho para uma escola particular. Resolve-se, assim, o problema. Bem ao jeitinho passivo do brasileiro!

Entretanto, quando penso na Europa como referencial educacional, prefiro seguir uma prática bastante comum na maior parte do Velho continente: a distribuição de papéis. As leis educacionais costumam definir a seguinte estrutura: ao Estado cabe disponibilizar toda a estrutura para que as escolas possam funcionar; ao professor cabe a obrigação de ensinar, sendo apoiado pelo Estado neste papel; ao aluno cabe a obrigação de aprender, sendo apoiado pela família neste papel. Mais simples do que isso é impossível.

Sabe-se que as certezas e verdades são tão efêmeras quanto duvidosas. Porém, há muitos anos que o Brasil resolveu adotar um pensamento como dogma – a noção de ensino-aprendizagem. Assim como numa Inquisição, cometer a heresia de contestar esta verdade é passível de condenação, menos mal que hoje em dia dispensamos as fogueiras, embora mantenhamos os expurgos.

É preciso abrir um parêntese. Não estou colocando em discussão inúmeros estudos sérios demonstrando a relação estreita entre a forma de ensino e o tipo de aprendizado. Apenas chamo a atenção para os desdobramentos que isto acabou provocando no pensamento pedagógico, sobretudo brasileiro. Utilizando a lógica do dogma em questão, deduzimos que só há ensino se houver aprendizagem, ou seja, se o aluno não aprendeu é porque quem ensinou – o professor – falhou. Que engraçado, acho que já falamos disso lá em cima.

O discurso que aqui entendemos ser dominante na educação brasileira acabou por trazer uma triste consequência para o trabalho do professor. Diante da realidade (alunos semianalfabetos chegando ao Ensino Médio), muitos colegas sucumbem e apesar de saber que seu aluno não tem condições de seguir adiante não querem conviver com o rótulo de fracassado. No final do ano, arruma-se sempre um “jeitinho” para que o “aproveitamento” seja “satisfatório”. Alimenta-se, desta forma, um circulo vicioso. Mas este mesmo discurso, bancado pelo Estado (viva Júlio Groppa!), está ajudando o Brasil a melhorar os seus números (viva Maquiavel!). Que coisa linda ver aquela mulher do comercial subindo as escadas do desenvolvimento na educação do país! O Ideb só melhora! Escolas e prefeituras pulam de alegria quando veem seus cofres mais cheios por cumprirem a meta do Ideb. O contraditório é que isso tudo contrasta com aquilo que os professores percebem no dia a dia do seu trabalho: a cada ano que passa o “nível” fica pior. Qual é o segredo?

Se você pensar um pouco mais, com calma, vai perceber o quanto de podre se encontra a educação brasileira. O país quer mostrar para o mundo que investe na educação, para isso precisa melhorar os índices de escolaridade. Uma das primeiras iniciativas foi a tão conhecida universalização da educação, garantindo a todas as crianças o acesso à escola. Para garantir lugar para toda esta demanda, era comum os governantes criarem escolas, assunto corriqueiro nas campanhas políticas. Com o passar do tempo, achou-se que não precisava de mais unidades, afinal, seguindo a linha do “coração de mãe”, quem dá aula pra 20 pode muito bem se virar com 40. E, afinal de contas, como já testemunhei uma educadora dizer, “não há nenhuma pesquisa comprovando que numa turma menor há melhor aprendizado”.

Outra iniciativa, esta mais recente, foi incluir a antiga Classe de Alfabetização no Ensino Fundamental, uma manobra simples que aumentava em 1 ano a escolaridade do brasileiro.

Paralelamente, buscou-se uma forma de quantificar a qualidade da educação. Encontrou-se uma fórmula mágica. O Ideb faz uma média entre a nota da Prova Brasil, os índices de evasão e de repetência. E não é de se estranhar que o peso dos números da repetência é maior do que o da avaliação nacional.

Agora é só fazer a brincadeira do siga os pontinhos: o Brasil quer que o Ideb do país melhore e para isso fornece gratificações para os estados e municípios que obtenha tal feito.  Os estados e municípios querem receber mais dinheiro e por isso premiam as escolas que conseguem melhorar seu desempenho. Junta-se agora a fome com a vontade de comer. Temos um professor encurralado por dois lados: por um, a equipe pedagógica dizendo que quanto mais ele aprovar, mais competente ele é; de outro, uma secretária de educação ou o diretor de escola (loucos por mais verba) dizendo que quanto menos ele reprovar, menos chance de algo acontecer com ele (leia-se demissão, para os contratados; perseguições; transferências de escola; desvios de função, etc.). Ingredientes perfeitos para explicar uma das facetas da falência da educação no país.

Mas quando se culpa o professor pelo fracasso escolar do aluno, há de se debater outros pontos. Quando falamos em educação, somos obrigados a falar em quatro atores: Estado, professor, aluno e família. Toda vez que alguém restringe esta tarefa à relação professor-aluno incorre num erro grave.

O próprio Declev já fez esta discussão por aqui. Ele dizia que recebemos, salvo algumas exceções, um aluno extremamente carente. Primeiro é o Estado, que desde os seus primórdios dias quase sempre não cumpre com que prometeu. Coisas “pequenas” como o que a constituição do país ordena: saneamento básico, saúde, segurança, habitação etc. Com isso, temos a criança e sua família desprovida de elementos básicos para se viver dignamente. E por falar em família, além de sofrer toda a falta do Estado, o aluno, antes de chegar até você, professor, ainda passa pela experiência de ser criado em ambientes tão desestruturados como os lares atuais. Poderia aqui falar da ausência de limites imposta às crianças, da falta de exemplos, da violência doméstica etc. Mas assim estaria desobedecendo às ordens do mestre Groppa.

Tudo isso foi pra dizer que quando recebemos um aluno em sala de aula, ele já se encontra afetado por inúmeros traumas que vão, indiscutivelmente, afetar seu desempenho educacional. No entanto, os mesmos atores (Estado e família) que malograram no seu papel, transferem para os docentes a culpa que deviam repartir.

Como os antigos hereges, não busco criar uma doutrina nova. É exatamente por acreditar na capacidade transformadora da educação que afirmo: somente avançaremos quando os quatro atores admitirem suas limitações e suas falhas. Enquanto a novela da qual fazemos parte continuar a colocar o professor como vilão, continuaremos a ver a mesma história, ano após ano.

Luiz Eduardo Farias

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9 thoughts on “O fracasso é de quem?

  • 04/11/2012 em 19:33
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    Luiz,

    Não posso deixar de comentar esse seu texto. Acho que coloca absurdos enormes aqui, em alguns trechos, e, em outros, mostra uma visão realista.

    Mas é absolutamente exaustivo pra mim repetir pela milionésima vez o que, aqui mesmo no blog do Declev, eu já escrevi, expus, com argumentos, com base, tantas e tantas vezes.
    Sinceramente, não tenho mais condições emocionais pra isso!
    Mesmo assim…

    Vc está sendo totalmente injusto com os pedagogos, os psicólogos e os psicopedagogos e não está querendo ver os erros dos professores. Se são 4 atores nessa história (parte que concordo com vc e sobre a qual já escrevi mil vezes também), porque vc só fala do professor pra dizer que ele é um grande injustiçado??? Em que momento vc está assumindo a parcela de responsabilidade do professor no horror da educação de hoje??? Só quando os outros 3 atores assumirem é que vc assumirá?…

    E por que citou Groppa, quando podia citar mil outros? Apenas para parecer que seus argumentos são irrefutáveis? Mas não são. Em absoluto. Só que me sinto cansada demais para repetir essa discussão, pois ao contrário do que vc pensa, não tem novidade nenhuma nela. Há muitos e muitos anos que os professores culpam os pedagogos por estarem, na visão destes professores, culpabilizando os professores por todos os males da educação. Isso é velhíssimo, uma discussão antiga, onde muitos citam o mesmo cara que vc tomou como referência, o que mostra a repetição, a falta de ideias originais para se debater esse assunto. Já participei de discussões onde muitos professores colocavam, abertamente, que o grande culpado pela “perseguição que o coitadinho do professor sofre hoje” é o pedagogo, que nem deveria existir, pois educação é professor e aluno e só!
    Pra vc ver o quanto de desrespeito temos que aguentar…

    E O PEDAGOGO É PROFESSOR TAMBÉM!!! Só que tem outro tipo de experiência, além da de sala de aula, o que o credencia a poder relacionar uma série de informações, ideias e experiências de uma forma que quem só trabalha em sala de aula não tem elementos para fazer.

    E colocar a Europa toda como se só tivesse um tipo de educação é uma inverdade. São muitos países e culturas diferentes, muitas formas diferentes de lidar com educação, experiências das mais conservadoras às mais modernas convivendo e, portanto, dizer que é tudo igual e, pior, que nenhuma tem nada a ver com a nossa realidade e, por isso, nada pode ser adaptado aqui é algo totalmente sem fundamento.

    Poderia discutir seu texto por horas, mas não vou fazer isso, pois seria um desgaste absurdo e não estou com saúde pra isso. Na própria internet qualquer um encontra informações que respaldam cada uma das minhas opiniões aqui. Se alguém quiser se aprofundar nesse assunto e sair das repetições, é só pesquisar um pouco mais.

    Só preciso concluir dizendo que é claro que não podemos separar ensino de aprendizagem! Isso não é um dogma e sim o “óbvio ululante”, como diria Nélson Rodrigues. Muitos professores sabem disso, pessoas preparadíssimas, engajadas também, enfim… Acho que o difícil para os que não querem aceitar essa obviedade é que ela leva o professor a ter que fazer uma auto-crítica sim e isso a maioria não quer, pois é mais fácil criticar só os outros 3 atores do processo e se colocar como o eterno injustiçado. Sinceramente, isso é tão tão velho que já perdi a paciência para continuar debatendo esse assunto, pelo menos agora.
    Que cada um faça as suas escolhas e tome o caminho que achar melhor.
    Eu vou continuar lutando pela educação fazendo uma crítica aos 4 atores e não só a um ou dois.

    Me desculpe, Luiz, mas além de não ter lido nenhuma novidade nesse seu texto – o que não quer dizer que não possa soar como algo novo pra outras pessoas, claro -, na minha opinião é tão injusta e desinformada a forma como vc fala dos pedagogos, psicopedagogos, psicólogos e tantos que estão também na luta pela melhora da educação, que prefiro parar por aqui, pois essas coisas me magoam profundamente e me deixam indignada.

    Mas pode ter certeza que a maioria esmagadora dos professores que lerem seu texto vão elogiar e concordar com vc, pois é um discurso que tem sido dito por muitos (não por todos).
    Espero que isso não te cegue para ver e ouvir quem não concorda com vc e porque não concorda, assim como eu.

    Um abraço,
    Regina.

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  • 04/11/2012 em 19:38
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    Oi Luiz, obrigado por mais um grande texto.

    Quanto a esta culpabilização, de fato já escrevi aqui algumas vezes.

    A mais contundente foi, com certeza, a resposta pública que dei à então futura secretária e hoje, infelizmente, atual secretária de educação do Rio de Janeiro, quando ela afirmou que “quando um aluno repete de ano, é sinal que o professor falhou”.

    Não preciso dizer o quanto fico indignado por este pensamento, no mínimo, maldoso.

    http://www.diariodoprofessor.com/2008/11/30/carta-aberta-a-futura-secretaria-de-educacao-do-rio-de-janeiro-claudia-costin/

    Resposta
  • 04/11/2012 em 20:51
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    Regina,

    Primeiramente, não me coloquei como uma parte deficiente por achar que faço bem o meu papel, ou ao menos tento fazer o meu melhor.
    Segundo, a crítica maior é para um pensamento da Pedagogia e, como consequência, para aqueles pedagogos que a defendem como se fosse uma verdade absoluta, se esquecendo que as ideias de hoje vão passar assim como tantas outras. Já trabalhei e trabalho com pedagogas maravilhosas. Já falei aqui no site que concordo com você quando diz que existem muitos professores medíocres. Então, não há fundamentalismo na minha fala. É apenas um contraponto! Ou só pedagogos podem teorizar sobre educação?
    Terceiro, insisto, pode sim haver ensino sem que haja aprendizagem! Não sei que óbvio existe no contrário. As ideias pedagógicas estão mergulhadas pelo discurso de supervalorização do papel do professor. Se um aluno, por qualquer que seja o motivo, não está em condições ideais ou não quer aprender, após uma aula de um professor muito competente, que utilize diversos recursos, enfim… se ele não aprende é porque não houve ensino? Tenho um aluno que fica no computador TODOS os dias até umas 2 horas da madrugada. Como tenho aula com ele nas primeiras aulas da manhã, ele está sempre dormindo. Fiz O MEU PAPEL de avisar para a orientadora, que fez SEU PAPEL e chamou a atenção ao pai, que NÃO FEZ SEU PAPEL e o menino continua tendo 4 horas de sono por noite. O aluno também é vítima? Sim, sem dúvidas! Mas daí a falar que o fato de não haver aprendizagem na minha aula é porque não ensinei direito já é demais.
    Volto a dizer, não tenho a pretensão de afirmar que minhas ideias são irrefutáveis. Apenas tenho a intenção de dar voz para a versão dos professores, já que o pensamento reflexivo sobre a educação está nas mãos de pedagogos, psicólogos etc. Sei que eles também podem ser professores, mas é a vivência real que determina as ideias (como queria Marx). Passei dois anos fora da sala de aula, sendo instrutor de informática, e foram dois anos sem escrever textos de desabafos e críticas à Educação. Como iria me revoltar com o que ocorre em sala de aula se eu não vivenciava aquilo? Por mais que pareça injusto, Regina (e pode ser, realmente), tem coisas que só os professores de sala de aula experimentam. Não se trata de ser o dono da verdade, mas é outro ponto de vista, só isso! Sem hierarquias.
    Citei o Groppa simplesmente porque ele foi contratado para fazer uma palestra para os professores da cidade em que dou aula e moro. Não perderia o meu tempo escolhendo a dedo um especialista só porque meu pensamento poderia refutá-lo.
    Coloquei a Europa como um todo porque não era um artigo que tinha como foco esta temática. Aliás, existe uma educação típica do Brasil? Do Rio de Janeiro? Enfim, todos nós sabemos que a realidade local é diversa. E o nosso país, pela dimensão e particularidades como a desigualdade social, realmente não pode importar o sistema finlandês de educação. Não vejo porque discordar disto. Adaptar? Talvez, mas cada caso é um caso. Mas esta é uma discussão para outros artigos.
    Quanto à sua frase “Acho que o difícil para os que não querem aceitar essa obviedade é que ela leva o professor a ter que fazer uma auto-crítica sim e isso a maioria não quer, pois é mais fácil criticar só os outros 3 atores do processo e se colocar como o eterno injustiçado.”, chego a ficar sem palavras. Não tem um único dia que não chego em casa e reflito sobre a minha aula. Não tem um único ano que tenha terminado que eu tenha achado que foi satisfatório, pois a minha personalidade me impede de parar. Os meus textos são válvulas de escape para tanta autocrítica. Portanto, Regina, me sinto no direito sim de cobra para que os outros atores cumpram o seu papel.
    Por fim, você não deve pedir desculpas por nada. Como já dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Estamos ambos assumindo o direito democrático de discordar do outro. E melhor, sem levar para o lado pessoal. Desta forma, continuo contando com seus comentário e torcendo para que continue a me inspirar para escrever com melhores argumentos.

    Abraços!

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    • 04/11/2012 em 21:18
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      Regina e Luiz,

      Vejo os pontos destrinchados pelo Luiz como verdadeiros. Todos eles.

      O que não faz com que as argumentações da Regina também não o sejam.

      Ora, há professores e professores.

      Eu mesmo acabei, neste momento, de escrever um artigo aqui em que critico a meritocracia justamente porque é difícil definir quem são os “bons” somente por números, e isso traz injustiças.

      Neste artigo, trago um exemplo de um caso – como digo, pode ser verdadeiro ou não – que é injusto.

      Da mesma forma, Regina, você em alguns artigos critica certa classe de diretores que não querem e não estão ali para melhorar a escola ou a educação, mas para ocupar um cargo político.

      Ora, isso não quer dizer que todos os diretores sejam assim e que não existam bons diretores.

      Da mesma forma, encare as críticas aos pedagogos. Pode ter certeza que existem os ruins, que estão lá para “cumprir ordens”, para preencher papéis, para ver se o professor preencheu o diário burocraticamente, para servir de “olheiro” para a direção, coisa e tal.

      O que não quer dizer, então, que não existam os bons pedagogos e que a crítica se estende para eles.

      Quanto ao ensino-aprendizagem eu já respondi uma vez um amigo meu que, sim, existe. Existe porque não podemos abrir a cabeça de uma criança e colocar as coisas lá, porque não adianta se uma pessoa não quer.

      Numa turma de 40 aluno, o professor ensina, fala, propõe, corrige, mas sempre há aqueles que não ouvem, não fazem, não querem. Estão com as mochilas nas costas e os fones no ouvido.

      Ficamos a aula inteira tentando fazê-los estudar esquecendo dos outros ou nos focamos naqueles que estão abertos a nós?

      Neste caso, o professor está lá para fazer o seu papel (ensino e facilitação da aprendizagem), mas o aluno não quer o seu (aprendizagem).

      Não acha que há, neste caso, uma ruptura?

      Por fim, não fique tão nervosa, Regina, pois quem acha que TODOS os pedagogos são incompetentes ou burocráticos ou culpados por algo de ruim tem o mesmo pensamento daqueles que acham que o professor é o único culpado pela educação – como o groppa e o ioshpe, que tanto abomino.

      Não dá pra levar a sério, embora os levemos.

      No fim, nós, que estamos na escola, seja dentro seja fora da sala, somos vítimas de um modelo de educação falido e que, propositadamente, é cada vez mais esculhambado pelos gestores, para mim os grandes culpados.

      Abraços,

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  • 04/11/2012 em 20:55
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    Pois é, Declev!
    Aliás, eu me lembro bem desta carta porque foi o primeiro texto seu que li. Um professor do Rio que trabalha em Volta Redonda imprimiu o artigo e colou na nossa sala.

    Abraços!

    Resposta
  • 05/11/2012 em 12:45
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    Caros Declev e Luiz,

    Estava muito mal ontem, por motivos pessoais, que não devem ser colocados aqui, e isso influenciou minha fala. Peço desculpas se me excedi. Sou sanguínea, meio explosiva mesmo, mas também sou uma pessoa doce e, nessas horas, quem não me conhece, pode ficar com uma imagem errada de mim.
    Estou realmente exausta. Fisicamente e emocionalmente.
    Uma das coisas que me levou a ter burnout foi a postura de grande parte dos professores com quem trabalhei e isso me esgota. Dói. Pois sou professora também e fico pra morrer com os absurdos que vejo e ouço.
    Quanto a ter que estar dentro de sala de aula pra saber, já escrevi o que penso sobre isso. Se queremos pensar e discutir escola com amplitude, temos que ver e ouvir todos os lados e não só o lado de quem está dentro de sala de aula, que é tão parcial quanto qualquer um dos outros quando é visto sozinho.
    Eu mesma já critiquei pedagogos medíocres aqui, meramente burocráticos e alienados. Não tenho problemas nesse sentido. Não existe uma “classe” de profissionais de educação superior a outra, na minha opinião, Todas erram e acertam e todas precisam melhorar. E todas tem o direito de falar, se expressar, claro!
    Quanto aos gestores da educação brasileira – políticos e não educadores – serem os maiores culpados, concordo com Declev.
    Mas quanto a questão do ensino-aprendizagem, continuo com minha opinião e digo que a questão vai além do professor se auto-avaliar todos os dias. É preciso troca nisso. É preciso ouvir os alunos, os pedagogos, as famílias… É preciso um trabalho conjunto. Os alunos que aparentemente “não querem nada” com o estudo podem ser resgatados, em sua maioria, mas isso só pode ser feito em conjunto. O professor sozinho não tem como fazer isso com 40 alunos por turma, claro (sou totalmente contra esse absurdo número de alunos por turma!!!). Mas é possível e tem sido feito em muitos lugares, inclusive fora do Brasil, em experiências que tem muito a nos acrescentar sim.
    “Estou ensinando e, portanto, estou fazendo a minha parte” é tão defensivo e incompleto quanto “a escola avisou aos pais e eles não fizeram nada, então… a escola fez a sua parte!” ou “pus de castigo, briguei, bati, conversei e/ou ameacei, isto é, fiz o meu papel de pai/mãe, mas ele não mudou; então não posso fazer nada, pois já fiz a minha parte” e por aí vai.
    Essa fragmentação é uma das coisas que mais atrapalha. Não estou defendendo que um assuma a responsabilidade do outro, mas que se trabalhe coletivamente, em conjunto, pois, do contrário, práticas e conclusões serão sempre parciais, incompletas e, na maioria das vezes, ineficazes.
    Se queremos participar da mudança para um mundo melhor, precisamos ouvir uns aos outros e trabalhar juntos, ter ideias juntos, desenvolvê-las juntos, trocar mais, com humildade e sem discursos prontos, e não estou me excluindo dessa crítica, pois mesmo pensando assim, nem sempre consegui trabalhar realmente em grupo como gostaria. É difícil mesmo. É um aprendizado. Aprender não é difícil só para os alunos. Às vezes é até mais difícil pra quem já acha que sabe alguma coisa. E, repito, não estou me excluindo.
    Quanto a debater o que acontece nas escolas, em especial dentro das salas de aula, sem estar lá, depende da pessoa. Não precisamos da experiência prática e direta O TEMPO TODO se nos mantemos atualizados e se já a tivemos um dia (meses, anos… o que for!), intensamente, e se realmente fomos capazes de aprender com ela. Tanto acredito nisso que sempre escrevi muito sobre educação, estando ou não dentro de escola, como mãe, professora, pedagoga, psicóloga e/ou simplesmente como eterna aluna, pessoa comum. Isso é de cada um.
    Mais uma vez, perdoem meu nervosismo, mas tenho tido dias muito ruins e o que já me cansou imensamente durante anos, mas que eu ainda tinha paciência para ouvir, refletir e debater, nessas horas fica diferente, fica impossível e simplesmente transborda.

    Abraços carinhosos para os dois… Estamos, sim, do mesmo lado.
    Regina.

    Resposta
  • 05/11/2012 em 18:14
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    Imagina, Regina, você não tem que se desculpar.
    Volto a dizer, a diversidade de ideias faz bem para todos.
    Cada comentário enriquece o texto ao mostrar um ponto de vista, diferente ou não do autor.
    Um abraço!

    Resposta
  • 07/11/2012 em 21:05
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    Que bom que compreendeu, Luiz!

    É que é difícil ser de áreas onde todos metem a colher, mesmo sem entender do assunto.
    Se eu conversasse sobre Economia com um economista ou sobre Engenharia com um engenheiro, seria totalmente arrogante se tentasse falar desses assuntos de igual pra igual com eles. E isso só pra citar dois exemplos!
    Temos que ter humildade ao ouvir quem se dedicou anos a se especializar em algo!
    Mas, infelizmente, em algumas profissões todos se acham o direito e em condições de falar de igual pra igual com os profissionais da área, como nos casos da Pedagogia e da Psicologia, duas áreas em que me formei, me dediquei, trabalhei e continuo exercendo, cada uma de uma forma (só de faculdade, foram 4 anos de pedagogia e 5 anos de psicologia! Fora outros cursos dessas áreas, pós-graduação, etc.). Então cansa. Opiniões pretensiosas e cheias de deboche de quem não entende do assunto mas que acha que entende porque ouviu ou leu a crítica de fulano ou beltrano a respeito.
    Então, quando sinto, mesmo que de longe, alguma crítica que pareça vir dessa forma ou coisa semelhante, fico realmente indignada!
    Mas acho que já esclarecemos que não foi o caso aqui, embora a princípio eu tenha ficado meio desconfiada sim.
    Do mesmo jeito que o professor tinha que ser ouvido sobre o que acontece em sala de aula e tinha que definir as políticas educacionais junto com pedagogos, administradores escolares, etc., o pedagogo e o psicólogo também tem que ter seus conhecimentos e experiências respeitados. É o mínimo pra se começar a trocar ideias diante de tanta diversidade.
    Mas que bom que ficou tudo bem aqui entre nós. Discordar é sadio e acho ótimo que concordemos nisso.

    Grande abraço,
    Regina.

    Resposta

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