Apresentando-me e questionando: o ex-aluno que vira bandido nasceu assim? O que a escola tem a ver com isso?

Boa tarde, amigos.

Espero que possamos trocar muito por aqui, concordando ou não com as ideias uns dos outros, mas buscando sempre alargar nossas mentes e corações. É essa a colaboração que pretendo dar. Quando Declev me convidou para essa nova fase do blog, fiquei muito feliz, pois o admiro muito, sou leitora e participo deste blog com comentários há anos e acho fundamental que todos os lados sejam sempre ouvidos, para que realmente possamos todos nos fortalecer como educadores e nos unir para conquistarmos as mudanças políticas tão necessárias.

Pretendo relatar experiências diversas que tive em escolas, públicas e particulares, principalmente como pedagoga, mas também um pouco como professora e psicóloga. Na verdade, se tenho todas essas profissões (ainda sou, também, arteterapeuta), elas fazem parte de quem eu sou e, de alguma maneira, as levo para a função que eu esteja exercendo no momento; não dá pra separar totalmente.

Como dito em minha apresentação, tenho 51 anos e sou pedagoga desde 1986, sendo que desde 1982 já fazia estágios como professora e como pedagoga. Sou orientadora educacional e tive a sorte de cursar uma excelente faculdade, a melhor de pedagogia na época: a UERJ. Estudar lá me acrescentou muito em termos de consciência política também, tendo participado do Centro Acadêmico e de muitos movimentos lá dentro, inclusive eleições diretas para reitor – um tremendo exercício de cidadania!

Pensei muito sobre como começar aqui, pois são muitas histórias, relatos, ideias, informações… Acabei resolvendo começar pelo caso de um aluno que tive e que é bem representativo do tipo de aluno adolescente que temos hoje nas escolas, principalmente nas públicas.

É uma história que nunca vou esquecer, embora tenha visto acontecer tantas vezes com outros alunos.

Ele era um garoto de 14 anos que era considerado “impossível” por toda escola, diziam que ele “não tinha mais jeito”, vivia fora de sala porque os professores mandavam, pois ele atrapalhava a aula por ser muito indisciplinado e agressivo. Descobri que não tinha pai – fato comum entre os alunos dessas escolas, assim como é comum pais pedófilos, violentos, alcoólatras, etc. -, mas tinha um avô e uma mãe que viviam mandando-o da casa de um para a casa do outro, sempre criticando-o ou batendo nele, reforçando que ele não tinha jeito mesmo. Eu o ouvi e vi chorar várias vezes por causa disso. Sentia-se cada vez mais sem saída.

Um dia ele saiu de uma prova e rasgou a mesma, na frente da professora, xingando aquilo tudo e saindo pra ir embora. Peguei-o no meio do caminho e conversei com ele, que, depois de relutar bastante, acabou confessando, com imensa vergonha (cabeça baixa, olhando pro chão…) que não conseguia fazer aquelas provas, não entendia nada das aulas e não levava nem material pra escola porque não sabia ler e escrever direito. Com 14 anos! E era aluno daquela escola desde criancinha! Como ninguém viu isso? Como não fizeram nada? Como não o ajudaram? Como puderam rotulá-lo de “burro” (ele mesmo acabou se considerando assim), entre outras coisas, ao invés de descobrirem o que estava acontecendo???

Pois esse garoto, depois de tanto sofrimento, que vinha desde a infância, um ano depois, aos 15 anos, já não chorava mais e só mostrava muito ódio no olhar. Então, largou de vez a escola – ao ser “convidado” por ela a ir estudar à noite, em outra escola, pois “seria melhor pra ele” – e começou a cometer furtos, a bater na mãe (que sempre mentiu pra ele, o rejeitou, etc.; não estou dizendo que ele devia mesmo bater nela por isso – claro que não! – e sim mostrando que aquela violência toda não vinha do nada) e acabou assassinado pela polícia, porque polícia não prende pobre (julgar pra quê?) quando dá pra matar e pronto. Isso acontece todo dia, gente!! Quando é com o pobre, nem noticiado é!

E a escola simplesmente havia achado ótimo ele ter saído de lá, pra não “perturbar” mais ninguém… Empurrou-se o “problema” com a barriga, lavaram-se as mãos e pronto.

Tentei muito ajudá-lo, enquanto esteve lá, mas não foi suficiente. Sua dor e revolta na vida estavam muito arraigadas. Mas era só um garoto…

Quantas questões essa situação levanta? Em quantas nos faz pensar?

Está a escola preparada para lidar com o tipo de aluno que recebe, tanto em relação a dificuldades de aprendizagem, de disciplina, agitação, dispersão, etc., quanto em relação à violência que trazem com eles, vivida desde a infância, banalizada pelas mil torturas e “presuntos” (cadáveres) que já viram jogados nas ruas, ao redor de suas casas, e pela violência maior das injustiças sociais, dos políticos, da mídia…???

Como educadora, me senti em parte responsável sim. Doeu muito. Queria ter conseguido evitar que ele, como tantos outros, acabasse assim. Mas sozinha não tive como. O que posso dizer é que a escola, junto com a família, teve sim participação decisiva no caminho que ele tomou, por ação ou omissão. E isso é algo que não pode ser naturalizado. Temos que ver o tamanho desse absurdo e nos unirmos para evitarmos que outros casos como esse continuem acontecendo, dia após dia, como vemos acontecer com tantos alunos adolescentes…

Educar não é só passar conteúdos programáticos dentro de sala de aula! A responsabilidade do educador é bem maior do que essa!!

O que vocês acham?

Um abraço,

Regina Milone
Pedagoga, Arteterapeuta e Psicóloga

RJ, 02-10-12

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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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29 thoughts on “Apresentando-me e questionando: o ex-aluno que vira bandido nasceu assim? O que a escola tem a ver com isso?

  • 02/10/2012 em 22:57
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    Regina,

    Muito pungente o seu relato. O menino não teve a menor chance e a escola, como instância conservadora, só pensou em rejeitá-lo. Educação não é isso. As instituições educacionais no Brasil ainda não se libertaram do modelo escola-quartel e isso traz um descompasso terrível entre o estado atual da sociedade e o estágio cultural das instituições de ensino, aquém das necessidades das crianças e jovens que a elas recorrem. Enfim, a educação passa para eles como uma obrigação necessária apenas para passar de ano ou ganhar um diploma, fato que acompanha os estudantes até nos estágios superiores do ensino e aprendizado. Parabéns, beijos do admirador,
    Waldo Luís Viana.

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  • 02/10/2012 em 23:56
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    Pois é, Waldo… Concordo com vc.
    A escola continua à anos luz de distância das necessidades e interesses das crianças e adolescentes de hoje.
    Em relação às escolas públicas, de periferias, ainda existe também a questão da diferença de costumes, hábitos, cultura em geral, em relação aos valores e gostos de classe média que costumam chegar com grande parte dos profissionais das escolas. É como se falassem idiomas diversos e isso só afasta mais ainda e piora a convivência entre todos e o processo de ensino-aprendizagem.
    Por que não se aproveita mais o gosto pelo hip-hop dos adolescentes dessas regiões, por exemplo? Já fiz isso e deu super certo! Rapidamente aqueles alunos que pareciam não querer nada, apareciam empolgados, entusiasmados, interessados, com brilho nos olhos!
    As escolas ainda são arcaicas sim e por uma questão muito mais da mentalidade dos que nela trabalham do que pelos baixos salários e outras injustiças do tipo (injustiças sim, mas que não justificam tudo). As escolas e seus profissionais são conservadores, em geral, e, desse jeito, fica difícil cativar crianças e jovens do século XXI.
    Inclusão só existe no discurso. Na prática, ainda é a exclusão que manda nas escolas, infelizmente…

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  • 03/10/2012 em 10:45
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    “Educar não é só passar conteúdos programáticos dentro de sala de aula! A responsabilidade do educador é bem maior do que essa!”

    Concordo em gênero, número e grau.

    Resposta
  • 03/10/2012 em 14:25
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    Regina, boa tarde. Seu relato, retrata a realidade da nossa educação pública em nosso país. Existem diversas experiências positivas, enriquecedoras e inclusivas nas escolas da rede pública e que não têm a devida atenção. Elas passam “desapercebidas” para o conjunto da sociedade. Por outro lado, têm diversas experiências, como essa que você vivenciou, que procura justificar o caminho que o jovem”optou” para poder “sobreviver”. Ambas as situações, exigem uma reflexão mais pormenorizada e cuidadosa, porque colocam a EDUCAÇÃO com a única responsável pela educação dos jovens, desresponsabilizando a família e a própria sociedade. Acredito que seja muito difícil para Educação resolver isso sozinha sem a participação dos outros atores sociais.
    Em segundo lugar, numa sociedade, onde impera a corrupção, lagem de dinheiro, mensalões da vida… como você pensa em querer educar alguém se todos os valores sociais, culturais, éticos que até um certo momento serviam de parâmetro para a “boa” convivência social, estão sendo jogados na lixeira em prol do bem estar individual? Fica muito difícil educar numa terra onde ser marginal é o grande barato. Estranho, mas é a pura verdade. “Nossos heróis, morreram todos, de overdose.”

    Resposta
  • 03/10/2012 em 15:26
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    Regina, assim como você, também tenho cursos em áreas diversas e utilizo os diversos conhecimentos em sala de aula.
    Atualmente estou realizando um projeto com meus alunos que tem por base a identidade e o poder pessoal para mudanças. No bimestre passado, trabalhei a música do Michael Jackson: Heal the world (Cure o mundo) e pedi que eles fizessem uma redação falando sobre o mundo que eles queriam e como eles poderiam ajudar a construí-lo. Este bimestre, trabalhei a música: Earth Song (Canção da Terra) e pedi que eles fizessem uma redação falando sobre quem eles são, o que planejam para o futuro e como vão realizar o planejado. Ainda tenho mais uma etapa no projeto e espero conseguir terminar o projeto antes do término do ano letivo para que possamos comemorar mais um ano de convivência com mais consciência de quem somos e do poder que temos.
    Eu também utilizo recursos de áreas como propaganda para mostrar a importância da Educação na vida profissional dos meus alunos pois, como trabalho com EJA (Educação de Jovens e Adultos), os meus alunos já estão no mercado de trabalho e já tem necessidade de melhor condição econômica para si próprios e para as famílias pois muitos já tem filhos.
    Apesar de todos os obstáculos para a realização de trabalhos como este, precisamos nos entusiasmar e confiar que, mesmo sendo apenas uma gota d’água no oceano, vale a pena tentar afinal todo ser humano precisa ter consciência da importância do viver.

    Resposta
  • 03/10/2012 em 16:31
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    Betânia,
    Essa é uma questão tão urgente, a meu ver, quanto a questão salarial, a valorização do professor, etc.
    Por isso, prefiro usar a palavra “educador” do que “professor” e realmente admiro muito mais os que tem essa postura e essa compreensão da abrangência do educar.
    Obrigada pela participação!
    Um abraço…

    Resposta
  • 03/10/2012 em 16:57
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    Boa tarde, Ricardo!
    Fico muito feliz com sua participação aqui, pois vc é um educador de luta e muita experiência. Sempre me interessa ouvir/ler suas opiniões!
    Realmente as experiências positivas não são passadas pra sociedade e são muitas! Se não fosse assim, a Educação pública já teria ido pro buraco de vez, há muito tempo.
    Quanto a questão de onde termina a responsabilidade dos pais, das famílias e onde começa a da escola… É mesmo uma questão polêmica e delicada. Os alunos passam pouco tempo dentro da escola, as famílias com quem mais precisávamos ter contato são chamadas e não comparecem, os valores de hoje com seus “heróis-bandidos” e tanto individualismo imperam, como vc bem disse, mas, mesmo assim, em muitos casos, podíamos fazer mais e melhor.
    No caso que contei aqui, o aluno era aluno da escola desde pequenininho! Como nenhum profissional percebeu que ele não estava nem mesmo conseguindo aprender a ler e escrever??? É culpa só da “aprovação automática” ou era mais fácil ir empurrando com a barriga para os professores da próxima série darem conta? Como não viram que a auto-estima do garoto ia ficando cada vez mais baixa, até chegar ao ponto de achar que era burro mesmo, que não tinha jeito (era o que a escola e a família diziam pra ele!) e que era melhor ser ladrão?
    Isso não aconteceu de um dia pro outro! Foi sendo construído durante anos com participação ativa da escola que, por exemplo, tinha que ter visto a dificuldade de aprendizagem que ele tinha – e isso era função da escola SIM e não da família! -, para poder dar a assistência necessária, buscar algum reforço, encontrar uma forma dele superar a dificuldade – podia ser uma dislexia, por exemplo! como não viram isso??? – e conseguir aprender.
    Casos como esse existem aos montes!
    Mas as formações são incompletas, fracas e, por isso, nem os professores e nem os pedagogos chegam à escola sabendo identificar e atender adequadamente à maioria das dificuldades de aprendizagem que aparecem! De certa forma, é mais fácil repetir o eterno bordão: “esses alunos não querem nada!”.
    Muitas vezes as dificuldades vem da situação social do aluno e isso também precisa ser visto. As lutas pela melhoria da Educação falam pouco dos alunos (a não ser para criticá-los pelo “desrespeito” aos professores), na minha opinião, esquecendo-se de que eles são os mais afetados por toda essa situação de injustiça social em que vivemos! Mal ou bem, os profissionais da escola cresceram, se formaram, trabalham na área em que se formaram e, no entanto, a grande maioria dos alunos de escolas públicas acaba não chegando nem perto disso na vida!
    Se pra nós, adultos, é difícil lidar com tudo isso à nossa volta, com tantas injustiças, sujeiras, corrupção, inversão de valores, imagine para crianças e adolescentes???
    É tudo muito sofrido e difícil…
    Obrigada por participar, Ricardo!
    Abração…

    Resposta
  • 03/10/2012 em 17:09
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    Que bacana, Marise!
    Acredito muito nesse tipo de iniciativa que vc tem tido!!
    O Declev, criador deste blog, também costuma relatar experiências diversas que faz em suas aulas, sempre na busca de aumentar o interesse dos alunos e, assim, poder educar melhor.
    Acho que é por aí mesmo!
    Lutar por melhores salários e condições de trabalho é importantíssimo, mas experimentar outras formas de atuar dentro da escola também é! Não são coisas excludentes.
    Trabalhei pouquinho tempo com EJA, mas realmente as necessidades e obstáculos são outros, como vc bem disse.
    Quanto aos adolescentes, trabalhar identidade, poder pessoal para mudanças, consciência ambiental e planetária usando música, como vc tem feito, é muito legal! Tem tudo pra dar certo e deixar uma marca positiva nesses alunos, mesmo naqueles que pareçam não estar nem aí. E, com certeza, trabalhar essas questões com eles é mais urgente e importante do que muitos conteúdos programáticos que ainda fazem parte da grade curricular!
    Pra mim, exemplos como o seu, os do Declev, do Ricardo (que escreveu um comentário aqui também) e tantos outros são um alento, um sopro forte de esperança, pois, como vc diz no final (e concordo totalmente!): “Apesar de todos os obstáculos para a realização de trabalhos como este, precisamos nos entusiasmar e confiar que, mesmo sendo apenas uma gota d’água no oceano, vale a pena tentar afinal todo ser humano precisa ter consciência da importância do viver.”
    Parabéns pelo seu trabalho!
    Beijos…

    Resposta
  • 04/10/2012 em 00:48
    Permalink

    A escola e os educadores precisam entender que educação é atitude, procedimento, relações, simbólico, afetivo…!
    Nos aprendemos mediatizados pelas relações e pela cultura.
    A escola não pode ser uma fabrica, um banco,…

    Resposta
  • 04/10/2012 em 14:12
    Permalink

    Também acho, Waldir Romero!
    – Escola não é depósito – as famílias precisam estar junto, participando… mas não podem ser chamadas só pra ouvir reclamações sobre seus filhos ou saber suas notas;
    – A educação bancária que Paulo Freire falava continua, infelizmente…;
    – Pouco se trabalham as relações, o simbólico e o afetivo, a não ser com os velhos discursos batidos de sempre (repetições, repetições, repetições…);
    – Há pouca troca e pouco respeito pelas diferentes culturas que ali se encontram e pouca abertura para aprender umas com as outras…
    E por aí vai!
    Acredito em mudança de atitude e de procedimentos sim. Não podemos nos acomodar apenas às velhas críticas e discursos contra os governos e as políticas públicas, embora estes sejam realmente os maiores responsáveis pelo estado calamitoso da educação pública atual. Essas críticas e as lutas que vem delas tem que continuar, claro, mas só isso não é suficiente!
    É preciso auto-crítica, conhecimento, gosto pelo estudo e pelos diversos saberes para se poder trabalhar bem em educação! É preciso gostar de ler, dar o exemplo, ao invés de só reclamar dos alunos e das famílias.
    E por aí vai!
    E, é claro, é preciso que se tenham turmas com muito menos alunos, refrigeradas, bem iluminadas, com recursos didáticos variados… É preciso que as escolas não estejam caindo aos pedaços como muitas estão, é preciso constante atualização dos profissionais de educação SIM e tempo, dentro do horário de trabalho, para que possam se dedicar a outros contatos com os alunos, fora de sala de aula, e com as famílias, além de tempo para avaliação, planejamento, etc. Para isso, o professor e o pedagogo teriam que se dedicar a uma só escola, durante 40hs semanais, com um salário muito maior do que os atuais, para poder haver investimento total na educação como um todo. Enfim…
    Os obstáculos são muitos, mas insisto que, sem mudança de postura e de mentalidade dos educadores, de pouco ou nada adiantariam essas mudanças práticas (salário, plano de carreira, condições de trabalho…), pelas quais tanto lutamos…
    Um abraço…

    Resposta
  • 04/10/2012 em 19:47
    Permalink

    Não sou educadora, nunca fui professora, mas sou mãe e avó. Minhas filhas tiveram e agora meus netos têm o privilégio de frequentarem colégios particulares, cujo ensino é, sem dúvida nenhuma, muito superior ao público. Muitas vezes penso na desigualdade em que vivemos, enquanto uns têm acesso a melhor educação outros (a grande maioria) sujeitam-se a um estado precário e absurdo de ensino. E eu me pergunto? A educação deveria ser dada a todos os cidadãos de uma maneira igual. É um dever do estado, assim como a saúde também deveria estar ao alcance de todos. É claro que eu sei que no Brasil é quase um delírio sonhar com isso. Desconfio muito de políticos “paternalistas” que parecem estar fazendo um grande favor ao povo por inaugurar creches, hospitais e escolas. É uma obrigação, não é favor. Regina contou um caso deprimente e, o pior, é um caso entre muitos iguais. Nós podemos fazer alguma coisa? Penso que sim. Apenas acho que um trabalho gigantesco como esse (melhorar as condições de ensino para todos) tem que ser um trabalho conjunto em que a sociedade, estado e família têm que se unir. Como mudar a mentalidade de jovens carentes se eles só vêm ao seu redor, injustiças, violências e corrupção? Penso que, no atual estado de coisas, a escola e os professores tem uma responsabilidade enorme. Não se pode cruzar os braços diante da realidade. Se a família não tem condições de orientar os seus filhos, a escola tem que tomar para si (pelo menos por enquanto) todo este papel. Educar não é apenas transmitir informações, é muito mais do que isso. É promover a curiosidade, os questionamentos, as críticas, a liberdade. Regina tem toda razão em afirmar isso. Concordo plenamente. Agora, estamos diante de um problema extremamente complexo. Mas não é por isso que se deve desistir. Todos nós podemos fazer um pouco – podemos ajudar, só não podemos é esquecer, cruzar os braços e seguir como se nada estivesse acontecendo. Parabéns, Regina, continue batalhando, Você não está sozinha.

    Resposta
  • 05/10/2012 em 19:57
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    Olá Regina! Adorei ler seu relato ou depoimento. Eu também estou colhendo informações e vivências na Escola Pública, no momento, não como professora mas como Agente de Organização Escolar, apesar de ter licenciatura em pedagogia e no momento curso Artes Visuais, com a intenção de ser professora de artes.
    A escola onde estou tem “bons” problemas disciplinas, inclusive é “famosa” e a equipe de gestão, ainda pensa em melhorias…
    Existe muito em que pensar… O rosto de todos aqueles jovens não me sai da mente, eu os vejo. Custou meses para ganhar um pouco de confinça deles porque sendo adolescentes desafiam-nos a todo momento, a principio, penso como “autoafirmação”.
    O espaço escolar é como diz a teoria “dinâmico”, não pensava que fosse “emocionante”, inquietante, deflagrador de situações em que “não tem” culpados ou alguém que possamos culpabilizar.
    Por exemplo, um (ou dois) alunos me disseram de forma confrontadora: “… quantos meses você esta aqui…: três, quatro meses? Eu estou aqui há 8 (anos)…”. Então, a impressão que eu tive era de que este aluno quisesse me dizer “A ESCOLA É MINHA, E COMO É ´MEU ESPAÇO´ EU FAÇO O QUISER” ou “eu conheço esta escola melhor que ninguém…”
    Para complicar os objetivos a longo prazo da atual gestão, a escola deve passar por uma reconstrução, daí, provavelmente reformulação em seu projeto pedagógico e, quiçá, já pensando no ensino diurno para a Escola Período Integral. Então, vem outra questão que estou refletindo: como será o ensino médio noturno?
    Em contrapartida também penso na fragilidade do professor de carreira… Com certeza, são bem tradicionais e não arredariam o pé, por mudanças…
    Enfim, acho que seu relato suscita bastante sobre a questão do jovem trabalhador e estudante que é o reflexo da sua época e, segundo Miguel Arroyo não conhece seus direitos, por isso, age desta maneira tão … incômoda na escola.

    Resposta
  • 05/10/2012 em 21:19
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    A primeira pergunta que faço é? Alguém já viu os ambientes escolares? Quantos alunos temos dentro de sala de aula? Trabalhei numa escola semi-internato particular de poder aquisitivo MB, tinhamos no máximo 15 adolescentes por turma. As carteiras individuais podiam ser colocados em semi-circulo e os alunos tinham notebook, enquanto eu não tinha, porque não tinha dinheiro para comprar. Na época precisava trabalhar em 4 empregos. Trabalhei numa escola do estado onde tinhamos 57 alunos em sala, onde só cabiam 40. Em dias de prova não dava para separar em fileiras. Hoje tenho contato com uma colega que trabalha na zona sul, a sala tem 12 crianças, 2 professoras em sala e todos os recursos disponiveis. Enquanto o Brasil fica brincando de educação como plataforma política, a China e outros países passam a nossa frente. Mas quem quer saber disso? Já assisti uma grade curricular feita por professores de todas as escolas do estado ser substituida pela secretaria de educação na reunião final, mesmo depois de conversar com o governador e ele dizer que ela deveria respeitar os professores. Os professores são iguais a bombeiros, todos os dias estão tentando salvar vidas. Abs

    Resposta
  • 05/10/2012 em 23:04
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    Eliane, obrigada pela participação!
    Aqui me parece que todos que comentaram conhecem bem a realidade das escolas brasileiras hoje, mas concordo com você em relação ao fato de que muitos que dão opinião nessa área não sabem do que estão falando e deveriam no mínimo se informar melhor primeiro.
    Por isso blogs como esse são importantes, para levar à mais pessoas essas informações que a mídia oficial não passa.
    Quanto às experiências que citou, também passei por coisas parecidas e acompanhei outros profissionais que passaram. Até escrevi um artigo novo (logo será postado aqui) onde relato um pouco de uma experiência que tive, em dupla com outra professora, com uma turma quase toda de alunos com necessidades especiais e o quanto conseguimos trabalhar bem justamente porque estávamos em dupla e a turma era razoavelmente pequena. Deveria ser assim em todos os lugares! Não há como existir qualidade de ensino em turmas lotadas (mais de 40 alunos!) de crianças ou de adolescentes!!
    Você já viu uma grade curricular feita por professores ser ignorada e substituída – realmente um absurdo! -, assim como vi o último colocado nas eleições diretas pra reitor na UERJ, quando estudei lá, ser o escolhido pelo governador porque era do partido dele, ignorando totalmente a preferência dos alunos, professores e funcionários daquela universidade. Conto isso pra ilustrar o que estou querendo dizer: infelizmente essa prática é antiga e é a forma política desse país (não) funcionar. É muito injusto e anti-democrático! Temos que lutar sempre contra isso, não acha?!
    Quanto aos professores serem como os bombeiros, tentando salvar vidas diariamente, acho exagerado. Respeito sua opinião, mas já vi muitos professores prejudicando seus alunos e completamente fechados para ao menos rever e questionar a sua prática e o seu saber. Os professores NÃO são os maiores culpados pelo estado da educação, mas também NÃO são as maiores vítimas. A responsabilidade por todo esse caos é em parte dos educadores (professores aí inclusos), em parte das famílias dos alunos, mas, principalmente, a responsabilidade é dos políticos e das políticas públicas e, nesse sentido, todo mundo, enquanto sociedade, tem ao menos uma pequena parcela na manutenção desse quadro perverso, pois elegemos quem está no poder. Na minha opinião, é simplista colocar-se o professor como culpado ou como vítima. É uma visão quase infantil, maniqueísta e que não ajuda na união necessária entre todos os educadores e nem ajuda na busca de uma solidariedade mais ativa da sociedade como um todo. Esse é o meu ponto de vista.
    Um abraço,
    Regina Milone.

    Resposta
  • 06/10/2012 em 00:56
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    Olá, pessoal! interessante todas as opiniões ,no entanto ficou uma interrogação … Será que os professores são tão geniais a ponto de exercer tantas competências sem serem qualificados? Que bom se isso tudo fosse verdade e se em cada turma tívessemos apenas um ou dois problemas da natureza citada no relato. Na minha opinião é uma questão social e os governantes deveriam solucioná-lo de maneira mais eficaz. O fardo do professor já é bastante pesado em virtude das cobranças de resultados de avaliações que no meu ver desnecessárias (no contexto de realidade). E é por isso que a educação está cada dia caindo… arcaíca ou não a educação visa a formação do cidadão , só que diante do grande número de problemas, desrespeito, inclusão (esses devo salientar que não é o grande problema), a tal da “aprovação automática ” imposta nas escolas , tudo isso só traz o fracasso tanto do aluno como do professor que acaba adoecendo e sendo afastado do cargo. Infelizmente somos (professor/aluno) cobaias de experimentos a todo instante . Fala sério pessoal, escrever aqui e relatar um caso é fácil, quero ver solucionar 20, 30, afinal a realidade de sala de aula é essa. Basta fazer uma visita às salas de aula, mas fica pelo menos uma semana direto dentro da sala, talvez consiga enxergar a realidade e a dificuldade dos professores . Obrigada pela oportunidade de participar.
    Mari. Mg

    Resposta
  • 06/10/2012 em 02:00
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    Olá, Regina
    Parabéns por ocupar esse espaço com questões educacionais tão essenciais e que desde a 2a metade do século passado tem ocupado corações e mentes que realmente desejam uma educação diferenciada que tenha o aluno no centro do processo educativo e que realize a democracia necessária a educação brasileira, qual seja a de que cada tem o direito de aprender a partir de suas dificuldades concretas de aprendizagem. Com isso não entendo que a escola tenha que ser instituição total e cumprir outras funções além daquela que dela se espera: educar. Mas já seria tão transformador se entre nós fosse compreendido (e praticado) que não pode haver ensino sem aprendizagem. Ainda é forte entre nós a concepção de que ao professor resta ensinar e ao aluno e à sua família cabem aprender. Uma das consequências disso é o mercado paralelo das aulas particulares onde os alunos (que podem pagar) que não aprendem na escola vão ter educação diferenciada, personalizada, regulada a partir de suas dificuldades de entendimento da matéria. Quando o professor se interessa pela aprendizagem do aluno e compreende que ela não se dá pela simples transferência de conhecimento, mas que ela é construída junto com o aluno a partir de suas indagações, dúvidas, comparações e questionamentos, temos uma grande possibilidade de existência de um ato afetivo em que talvez o professor aprenda até mesmo o nome do aluno. Se tivéssemos uma educação onde os professores soubessem os nomes de seus alunos e, a cada vez que os encontrassem, olhassem nos olhos de cada um pelo menos uma vez no dia já teríamos uma base afetiva onde o triste acontecimento narrado por ti teria tido (quero crer) menor possibilidade de ocorrer. Não que eu creia que que escola possa tudo, mas entendo que ela pode muito.
    Para terminar, gostaria de saudar sua determinação de lutar por uma educação significativa e com qualidade social para todos e todas, afirmando a minha compreensão de democracia não mais como o regime onde a maioria impõe as suas condições, mas sim onde todos, a partir de suas diferenças, particularidades, discordâncias, possam conviver juntos articulando igualdade e diferença de forma que se combata toda e qualquer segregação no espaço escolar.
    Que sejamos agraciados com novos e bons artigos seus que aguçam a nossa percepção para uma educação mais potente, para uma escola mais democrática, para um Rio de Janeiro menos capitalista e para um Brasil verdadeiramente empenhado em fazer da educação a prioridade desse país.
    um grande beijo.

    Resposta
  • 06/10/2012 em 02:01
    Permalink

    Olá, Regina
    Parabéns por ocupar esse espaço com questões educacionais tão essenciais e que desde a 2a metade do século passado tem ocupado corações e mentes que realmente desejam uma educação diferenciada que tenha o aluno no centro do processo educativo e que realize a democracia necessária a educação brasileira, qual seja a de que cada tem o direito de aprender a partir de suas dificuldades concretas de aprendizagem. Com isso não entendo que a escola tenha que ser instituição total e cumprir outras funções além daquela que dela se espera: educar. Mas já seria tão transformador se entre nós fosse compreendido (e praticado) que não pode haver ensino sem aprendizagem. Ainda é forte entre nós a concepção de que ao professor resta ensinar e ao aluno e à sua família cabem aprender. Uma das consequências disso é o mercado paralelo das aulas particulares onde os alunos (que podem pagar) que não aprendem na escola vão ter educação diferenciada, personalizada, regulada a partir de suas dificuldades de entendimento da matéria. Quando o professor se interessa pela aprendizagem do aluno e compreende que ela não se dá pela simples transferência de conhecimento, mas que ela é construída junto com o aluno a partir de suas indagações, dúvidas, comparações e questionamentos, temos uma grande possibilidade de existência de um ato afetivo em que talvez o professor aprenda até mesmo o nome do aluno. Se tivéssemos uma educação onde os professores soubessem os nomes de seus alunos e, a cada vez que os encontrassem, olhassem nos olhos de cada um pelo menos uma vez no dia já teríamos uma base afetiva onde o triste acontecimento narrado por ti teria tido (quero crer) menor possibilidade de ocorrer. Não que eu creia que que escola possa tudo, mas entendo que ela pode muito.
    Para terminar, gostaria de saudar sua determinação de lutar por uma educação significativa e com qualidade social para todos e todas, afirmando a minha compreensão de democracia não mais como o regime onde a maioria impõe as suas condições, mas sim onde todos, a partir de suas diferenças, particularidades, discordâncias, possam conviver juntos articulando igualdade e diferença de forma que se combata toda e qualquer segregação no espaço escolar.
    Que sejamos agraciados com novos e bons artigos seus que aguçam a nossa percepção para uma educação mais potente, para uma escola mais democrática, para um Rio de Janeiro menos capitalista e para um Brasil verdadeiramente empenhado em fazer da educação a prioridade desse país.
    um grande beijo.
    Wilson Cardoso

    Resposta
  • 08/10/2012 em 02:06
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    Minha xará Regina,

    Como não é educadora se é mãe e avó? A educação começa em casa e, com certeza, sobre isso, vc tem muito a dizer!
    Sua opinião é super bem vinda!!!

    Também desconfio dos políticos paternalistas (aliás, tenho horror!), como vc, e também acho que a educação só vai melhorar de verdade com a união da sociedade, estado, família e escola, entre outros pontos que vc levantou e com os quais concordo bastante.

    Gostaria apenas de comentar duas frases suas, para contribuir com esse nosso papo:
    – “Minhas filhas tiveram e agora meus netos têm o privilégio de frequentarem colégios particulares, cujo ensino é, sem dúvida nenhuma, muito superior ao público. “;
    -“Se a família não tem condições de orientar os seus filhos, a escola tem que tomar para si (pelo menos por enquanto) todo este papel. ”

    Em relação às escolas particulares, muitas realmente funcionam muito melhor do que a maioria das públicas, pois tem estrutura física, didática, recursos variados, oferecem atividades diferenciadas, etc. Isso faz muita diferença realmente! Mas quanto ao ensino, existem bons e maus profissionais tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, assim como existem alunos e famílias interessados e dedicados e outros com problemas imensos, nos dois tipos de escola. Também sou mãe e escolhi muito até colocar meu filho em uma escola em que eu realmente acreditasse na filosofia, na prática, nas propostas, enfim… E o que vi era que só a minoria da minoria atendia ao que eu considerava e considero uma boa e completa educação. Achei uma escola particular assim, excelente, que foi uma grande parceira minha na educação do meu filho que, agora, já está com quase 21 anos. Mas foi difícil achar, viu!

    Quanto a escola ter que tomar pra si o que as famílias deviam estar fazendo e não estão, acho uma afirmação perigosa. Entendo o que vc quis dizer, mas o problema é que muitos pais simplesmente “depositam” seus filhos nas escolas, deixando toda a responsabilidade para elas, o que deixa os profissionais de educação mais assoberbados ainda do que já estão! Concordo que a escola precisa exercer seu papel de educadora de uma forma muito mais ampla do que faz, mas precisa fazer isso trabalhando junto com as famílias, procurando trazê-las cada vez mais para participarem da escola, pois senão fica quase impossível trabalhar, em muitos momentos.

    Muito obrigada pela sua sensível e inteligente participação aqui nesse nosso papo!

    Beijos…
    Regina Milone.

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  • 08/10/2012 em 02:34
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    Obrigada a vc, Mari, por participar!

    O caso que relatei aqui foi apenas um entre mil que acompanhei! Escolhi esse, pra contar a história, justamente porque representa muitos outros semelhantes.

    Como vc disse, muitas vezes são 20 ou 30 assim numa mesma turma!!! E é um desgaste e um sofrimento danado para todos! Não cansa só o professor. Cansa a todos os educadores realmente preocupados com esse quadro e que tentam fazer alguma coisa! Como pedagoga, eu não tinha 20 ou 30 e sim mais de mil alunos (TODAS as turmas da escola!!!!!!!), muitas vezes, para dar conta de problemas de aprendizagem, disciplina, faltas excessivas, violência, doenças, maus-tratos em casa, entre outros tantos horrores, nesse quadro – social sim, claro – perverso da educação, principalmente da educação pública de hoje. Chega a ser desesperador! Eu mesma adoeci diversas vezes!! Tanto quando trabalhava como professora de sala de aula quanto quando trabalhava como orientadora educacional. Aliás, posso dizer que essa segunda função foi ainda mais desgastante, por ter que atender a escola inteira de alguma forma, pois vc passa a ter uma visão do todo da escola, de todos que fazem parte dela e vê problemas imensos por todos os lados! Te garanto que vai muito além do estresse diário da relação professor/aluno, que anda mesmo dificílima. Como eu tive as duas experiências, posso dizer que o trabalho que se espera do pedagogo na escola é mais impossível ainda de ser bem feito do que o que se espera do professor! Pelo menos foi assim nas experiências que tive.
    O que acontece é que muitos acabam largando a escola – tanto os alunos quanto os profissionais dela.

    Quanto às avaliações, considero muito importantes, assim como as atualizações, capacitações, o aprendizado de novas ideias e práticas que deixem o educador mais qualificado sim, pois considero os cursos de formação de educadores muito incompletos ainda.

    E quanto a ser fácil escrever aqui para relatar um caso… Não é não, Mari. A gente se expõe, as lembranças são dolorosas, é preciso escolher bem as palavras para não ficar nenhum mal entendido, enfim… Não é fácil não.

    Mas gostei muito da sua participação, da experiência que mostrou ter e de toda a sinceridade com que se colocou aqui!

    Beijão pra vc,
    Regina Milone.

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  • 08/10/2012 em 02:39
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    Wilson e Sonia,
    Adorei a participação de vcs!!! Quanta riqueza!
    Faço questão de comentar o que cada um escreveu, mas quero fazer isso com calma e, por isso, deixarei para amanhã, ok?
    Abraços…
    Regina Milone.

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  • 09/10/2012 em 18:45
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    Olá, Sonia!
    Que ótima a sua participação!!
    Acho que o que o Declev quer é justamente que opiniões diversas apareçam, com seus saberes e experiências próprias.
    Organizar uma escola é algo dificílimo e vc está vendo isso de perto. É um lado importante, pois, hoje em dia, com milhares de crianças e adolescentes para serem atendidos pela rede escolar, não haveria como voltar aos tempos antigos onde ensinar/aprender era apenas o encontro professor-aluno, em qualquer quintal ou outro lugar onde houvessem pessoas interessadas. A questão é macro e, portanto, exige uma série de profissionais trabalhando juntos, cada qual em sua função, para a educação acontecer.
    Acredito profundamente no caminho das artes, sou arteterapeuta e te desejo, desde já, muito boa sorte como professora de artes, podendo despertar a criatividade e a sensibilidade de tantos que precisam! Que os obstáculos não te façam desistir ou desacreditar. Que vc possa ser alguém que vá ajudar a abrir olhos, corações e mentes para a beleza do mundo, de todas as formas possíveis.
    Quanto aos problemas de (in)disciplina… Isso é geral.
    Vc tem razão ao falar em autoafirmação, pois é realmente algo comum e necessário na adolescência. Muitas vezes vão te provocar simplesmente por isso ou para ficar bem diante da turma (nesse idade, os grupos, os amigos, passam a ter mais importância do que qualquer um), pois estão crescendo, experimentando, tentando ser tratados como quem “não é mais criança”, por um lado, mas, por outro, permanecem com um pé ainda na infância sim e são imaturos, muitas vezes carentes de atenção e afeto, etc. Não é um período fácil na vida de ninguém! E leva tempo para ganhar a confiança deles realmente.
    O que vc ouviu de alguns alunos, também ouvi, tanto de alunos quanto de professores, funcionários, coordenadores, diretores, pessoal do administrativo da escola, etc. São falas autoritárias e que só servem pra tentar calar a boca de quem tem algo diferente a dizer. Logo vc verá que, na prática, a escola é uma instituição que exclui a diferença o tempo todo, em todos os níveis, infelizmente…
    Ouvi muito: “vc não conhece essa escola, essa comunidade, como eu que estou aqui há “x” anos! eu é que sei como é, então eu é que posso falar!”; “vc pode ter dado aula em outros lugares, mas não conhece essas turmas daqui e essas são impossíveis!”; “vc estudou em escola particular e, por isso, não sabe nada de escolas públicas!”; e por aí ia… Era falas muito preconceituosas, por sinal.
    Era um balde de água fria atrás do outro, a cada questionamento, opinião ou ideia nova que eu levasse. E olha que sempre ouvi e observei bastante, pois não poderia chegar numa escola nova falando mil coisas sem conhecer bem onde eu estava pisando primeiro! Mas, mesmo assim, ouvia todos esses “cortes” diários, desqualificando quase tudo que eu tentava levar para contribuir…
    Em algumas escolas isso melhorou com o tempo e com muita batalha minha para ter uma boa relação com todos e me fazer respeitar. Em outras não.
    O aluno, em geral, não conhece seus direitos e nem seus deveres e mete os pés pelas mãos a todo momento por causa disso. Não é fácil!
    E realmente grande parte dos professores é tradicional e não quer mudanças, a não ser aquelas que levem a um retrocesso escolar, à um tempo em que aluno não “piava” e professor nunca era questionado.
    Defendo muito os professores em relação às injustiças que vivem – baixos salários, desvalorização da profissão, falta de condições mínimas – recursos, didáticos, técnicos, etc. – para exercerem um trabalho de qualidade, entre outras coisas -, mas defendo muito os alunos também e sou bastante crítica em relação aos profissionais que querem a volta dos “bons tempos” onde “todos os alunos respeitavam seus professores”, o que é uma ilusão e uma ignorância, pois esse tempo é quase mítico, é uma fantasia, nunca existiu! O que existiu foi um tempo de autoritarismo, de medo, de coisas ditas e feitas por baixo dos panos, enfim… Não é andando pra trás que vamos melhorar!
    Obrigada, mais uma vez, pela participação, Sonia!
    Beijos…
    Regina Milone.

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  • 09/10/2012 em 19:11
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    Caro Wilson,
    Que maravilha a sua participação!
    Logo se vê que vc sabe do que está falando!!
    Quando vc diz que os “que realmente desejam uma educação diferenciada que tenha o aluno no centro do processo educativo e que realize a democracia necessária a educação brasileira, qual seja a de que cada um tem o direito de aprender a partir de suas dificuldades concretas de aprendizagem”, eu não poderia concordar mais! Sinto-me totalmente incluída entre esses que desejam uma educação diferenciada!!
    Importante vc colocar que a escola não tem que cumprir outras funções além de educar. E acredito que isso – EDUCAR – deva ser feito junto com as famílias, com bastante troca, mas com cada parte cumprindo a sua função. Essa é uma luta diária, difícil, mas fundamental para que a escola não fique sobrecarregada, assim como é fundamental a luta política, para que os governos façam a sua parte – o que pouco ou nada vemos! – e ofereçam condições de trabalho decentes para todos, incluindo aí constantes atualizações e capacitações dos profissionais de educação.
    A educação é uma das áreas onde mais acontecem desvios de verbas nesse país! É uma vergonha!! E esse é só UM exemplo do que acontece em relação às políticas educacionais existentes. Na verdade, acontece muito mais e muito pior ainda!!!
    Achei perfeita a sua colocação sobre o fato de que não se pode dizer que houve ensino se não existiu aprendizagem! E, infelizmente, na prática cotidiana escolar, ouve-se toda hora esse tipo de coisa: “eu fiz a minha parte; ensinei, dei a matéria toda, mas se eles não quiseram estudar e aprender, aí já não é problema meu!”.
    Vc escreveu: “Quando o professor se interessa pela aprendizagem do aluno e compreende que ela não se dá pela simples transferência de conhecimento, mas que ela é construída junto com o aluno a partir de suas indagações, dúvidas, comparações e questionamentos, temos uma grande possibilidade de existência de um ato afetivo em que talvez o professor aprenda até mesmo o nome do aluno.” Com certeza!! Novamente concordo com vc completamente. Esse encontro de PESSOAS, que se olhem afetivamente nos olhos e se conheçam minimamente é fundamental para a educação acontecer!
    Vc escreve tão bem, que coloco aqui outro trecho, com o qual me identifico muito também, que é o que fala sobre como vê a democracia hoje: “(…) a minha compreensão de democracia não mais como o regime onde a maioria impõe as suas condições, mas sim onde todos, a partir de suas diferenças, particularidades, discordâncias, possam conviver juntos articulando igualdade e diferença de forma que se combata toda e qualquer segregação no espaço escolar”. Aplaudo de pé!!!
    E te agradeço profundamente, de coração mesmo, seu incentivo, elogios, participação, enfim… Muito obrigada por ter passado por aqui e deixado a sua opinião!!!
    Pra mim, tem uma importância imensa me sentir compreendida e acompanhada nesse processo, o que o blog do Declev, de maneira geral, sempre me fez sentir, assim como vc também me fez sentir, agora.
    Grande abraço,
    Regina Milone.

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  • 12/10/2012 em 16:21
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    Regina, me desculpa mas me recuso a aceitar o rótulo de “educador”. No pouco tempo que tenho com meus alunos não tenho a chance de educá-los. Quando tento fazê-lo é para que haja o mínimo de condições para que ocorra o aprendizado e o desenvolvimento das competências que planejo para eles. Os professores já estão sobrecarregados com essa conversa toda de “educador”, pois também temos que ser psicólogos, médicos, policiais… enfim, não… apenas me chame de professor!

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  • 12/10/2012 em 16:58
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    Olá, Luiz Eduardo!
    Obrigada pela participação!!!
    Veja bem, chamar o professor de educador é valorizá-lo e não o contrário (alguns podem usar esse termo com outro sentido, mas eu não)!! Educar é uma responsabilidade imensa e vai muito além da mera transmissão de conhecimentos, como vc bem sabe. Mas é claro que isso não significa ter que ser também psicólogo, médico, policial, pai/mãe do aluno, etc. Claro que não! Mas significa ter noção do tamanho da responsabilidade que é educar. Inclusive sou totalmente a favor de uma dobradinha maior entre Saúde-Educação-Serviço Social. Especialmente na educação pública, essa união seria importantíssima! Justamente para que os professores e demais educadores não ficassem tão sobrecarregados como estão! Então, chamar de educador é valorizar e não diminuir ou cobrar algo que não seja da alçada de cada profissional de educação, embora, na prática, muitas vezes um precise ajudar o outro sim, porque se cada um se isola na sua disciplina ou turma, fica tudo fragmentado e o professor é um dos que acaba sofrendo mais com isso! Portanto, sermos vistos como educadores, a meu ver, é motivo de orgulho.
    Eu sou professora também, com experiência de sala de aula, tendo tido que lidar com alunos dificílimos, alunos especiais, alunos debochados, agressivos, etc. E, como quase todo professor, perdi a paciência mil vezes, botei aluno pra fora de sala, gritei com a turma, me estressei horrores, enfim…
    Mas, no meu caso, me desculpe também, mas pode me chamar de EDUCADORA sim, pois recebo esse título – não rótulo! – com muita honra! É um reconhecimento do meu trabalho, da minha capacidade, que vai além do que se atribuía aos professores antigamente (meros transmissores de saber, sem questionamentos e espírito crítico, como já disse). Sou mais, quero mais, busquei mais, lutei por mais e é isso.
    E, por mais cansativo que seja, acho que o caminho é o de tentar criar as mínimas condições para que o aprendizado ocorra, como vc mesmo disse, não só desenvolvendo competências mas também valores, autoconhecimento, consciência social e planetária (ambiental, histórica, etc.) e por aí vai. Essas são competências do professor também.
    E prefiro usar o termo educador porque engloba os diversos profissionais da área. Imagina como seria ter que citar um a um, cada vez que falássemos de escolas? Todos são – ou deveriam ser – educadores, em cargos/funções com diferentes especificidades. Apenas isso.
    E continuemos lutando para que os salários, a carga horária, a estrutura e as condições de trabalho sejam dignas, para podermos exercer bem esse papel tão importante que é o de educador!
    Um abração,
    Regina Milone.

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  • 14/10/2012 em 19:07
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    Oi, Regina,
    Gostei muito de ler o seu texto. Muito triste o seu depoimento e, infelizmente, muito real. Muitas pessoas comentaram e isso é muito bom pois mostra que o assunto mobiliza aqueles que ainda acreditam na educação. Concordo com você que a escola adoece sim muitos alunos, que fecha os olhos para muitas problemáticas, mas também entendo as dificuldades das escolas , com professores mal formados, uma política educacional autoritária e que ouve muito pouco aqueles que estão de fato ensinando ou tentando ensinar. A escola não pode tudo, como alguns comentários já lembraram, mas a escola pode muito mais do que está fazendo. É um caminho árduo, com muitos interesses e tensões em disputa o tempo todo. Acho que o blog é bom pra isso: levantar questões e ouvir pontos de vista diferentes, mas que podem se complementar e ganhar força. Parabéns pelo texto!
    bjs,
    Sônia

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  • Pingback: Campanha Política, Educação e Inclusão Escolar | Diário do Professor

  • 17/10/2012 em 00:13
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    É isso aí, Sônia.
    Acho essa troca, os desabafos, os relatos… ótimas formas de ainda conseguirmos lidar de alguma forma com a educação, dentro ou fora da escola.
    Se fosse pra ir pro divã, tinha que ir a escola inteira: pessoas e instituição! Adoecida e adoecendo todos a cada dia…
    Muito obrigada pela participação!!!
    Beijos,
    Regina.

    Resposta
  • 23/10/2012 em 20:32
    Permalink

    Oi regina,
    acho mesmo um absurdo e logicamente sempre
    mais fácil ninguém assumir a responsabilidade por
    esses casos. Claro que tanto a família como a escola
    tem papel decisivo no que aconteceu com o menino. Te parabenizo pelo texto e pela sua tentativa de ajuda a ele dentro do que estava a seu alcanse, afinal era disso que ele precisava, ajuda.
    Beijos,
    Marisa travassos

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  • 24/10/2012 em 15:57
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    Oi Marisa,

    Obrigada pela participação!
    Sem dúvida foram a família e a escola as maiores responsáveis pelo que aconteceu com esse jovem!
    Ele estudou na mesma escola desde os 6 ou 7 anos de idade. Como foram empurrando pra frente um menino que visivelmente não estava conseguindo aprender nada???

    É que, desde cedo, vemos e ouvimos rótulos serem carimbados nas crianças, que acabam marcando seus destinos, tantas vezes: “esse é muito preguiçoso”, “esse não quer nada”, “esse é agitado demais”, “esse só quer brincar”, “esse é agressivo”, “esse é mal educado mesmo”, “esse é daquela família onde todos são umas pestes” e por aí vai… São crianças!!! Ainda estão começando a formar suas identidades! Mas, de tanto ouvirem esse tipo de coisa, crescem achando que é isso mesmo que eles são. A “culpa” por não gostar da escola ou não conseguir aprender é deles! E não é, na grande maioria dos casos!!!

    É muita ignorância e covardia, tanto dos pais quanto de muitos profissionais das escolas. E o resultado é esse, representado aqui pelo caso que relatei. Tudo muito triste e revoltante…

    Fiz o que estava ao meu alcance sim, mas sempre vou achar que poderia ter feito mais… Ninguém deveria acabar a vida assim, tão moço, cheio de ódio e de forma covarde e violenta (assassinado pela polícia, ainda menor de idade!).

    Obrigada, mais uma vez, pela participação!

    Beijos,
    Regina.

    Resposta

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