Obra de Monteiro Lobato “Caçadas de Pedrinho” e racismo

Obra de Monteiro Lobato “Caçadas de Pedrinho” e racismo.

Livro 'Caçadas de Pedrinho', de Monteiro Lobato, distribuído a escolas públicas no programa Biblioteca na Escola

Termina sem acordo audiência de conciliação no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre se há elementos racistas no livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato.

As partes envolvidas no caso em questão são o Ministério da Educação (que distribui os livros para a rede de ensino) e o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), que questionou o uso do livro em razão de “elementos racistas“.

O livro “Caçadas de Pedrinho” foi publicado em 1933 e faz parte do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), do Ministério da Educação.

Em um trecho do livro a personagem Emília, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, diz: “É guerra e das boas. Não vai escapar ninguém – nem Tia Nastácia, que tem carne preta”. Em outra parte, Emília chama a empregada de “macaca”.

Tenho algumas considerações a fazer, mas, antes, leiam os trechos abaixo, pinçados do artigo do G1 (grifos meus):

O representante e advogado do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) Humberto Adami, que questionou a obra de Lobato no Supremo, afirmou não ser contra o livro, mas pediu que seja emitida uma nota técnica por parte do ministério com orientações aos professores da rede pública.

“Não quer dizer que sejam tiradas [as obras das escolas], é ter alguém dizendo é errado fazer isso, não pode fazer isso com colega, isso vai ferir outra pessoa. É o que se pretende”, informou Adami antes da audiência.

“Você não pode jogar assuntos desse naipe e não ter nenhum tipo de instrução, de orientação, de informação e de ferramenta para que os educadores possam lidar com esse tema”, completou. Ele disse ainda não considerar que o questionamento à obra seja uma “censura”. “Não [é censura] porque você vai dar ferramentas para esse tema ser debatido.”

Minhas considerações:

1 – Mais uma vez, comme d’habitude, os professores(as) são vistos como incapazes, péssimos profissionais, sem capacidade mínima para desenvolver o trabalho que desenvolvem e discernir sobre o certo e o errado.

Ou seja, o advogado do Iara acha que os professores(as) são completos imbecis que não sabem lidar com um livro histórico (sim, com elementos racistas) e, para tanto, têm que receber mais uma “norma técnica” dizendo que o racismo é errado!

Ora, quer dizer que os professores(as) não são capazes de trabalhar estas questões? Não têm formação adequada pra isso? Não têm experiência suficiente, enfurnados nas escolas, sobre esta questão?

Sinceramente, senhor advogado, o senhor está nos chamando de quê?

2 – É mais do que óbvio que este livro é historicamente escrito. Tem elementos racistas? Sim, talvez, não. Não importa, pois, neste caso, é um livro “do seu tempo”.

Tem, sim, que ser trabalhado nas escolas como um livro “do seu tempo”.

Mais um pouco não se poderá ler nada escrito por Hitler (nem trabalhar historicamente na escola) por haver elementos anti-semitas.

3 – As falas exemplificadas saem da boa da Emília, uma boneca de pano que, quem conhece, sabe muito bem ser arteira, mal-criada, faladeira… Ela é conhecida por volta e meia “abrir sua torneirinha de asneiras“.

Ou seja, fala besteiras, como falou em relação à negra Anastásia; besteiras as quais não deveria ter dito.

É assim que ela deve ser encarada pelas crianças e trabalhado pelos professores(as).

4 – Proibir-se de se ter nas escolas não faz sumir do mapa nem o livro nem a história do livro. Ou vamos queimá-los todos?

E vocês, o que acham? Qual a opinião de vocês a respeito?

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Anti-racista que , em sua infância, leu e assistiu muito o Sítio do Pica-Pau Amarelo

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No Diário do Professor você encontra artigos e links sobre o dia-a-dia da Educação:

Planos de aula, Atividades, Práticas, Projetos, Livros, Cursos, Maquetes, Meio Ambiente… e muito mais!

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Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

17 thoughts on “Obra de Monteiro Lobato “Caçadas de Pedrinho” e racismo

  • 12/09/2012 em 11:40
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    Infelizmente, toda a obra de Monteiro Lobato para crianças está obsoleta… Digo isto com a tristeza de quem teve a infância iluminada por ela.
    Lobato não só era racista, como irritantemente elitista… coisa normal na época.
    O curioso é que, se vão censurar “Caçadas de Pedrinho” por duas asneiras da Emília de teor racista, ninguém está se lembrando que caçar animais silvestres atualmente é crime ambiental…
    O que era uma fantasia infantil perfeitamente aceitável quando foi escrita, atualmente é um poço de maus exemplos.
    Pouco importa a valor literário; o público-alvo não tem o discernimento necessário para compreender que o que era “certo” no passado, não é “certo” atualmente. E não há professor que consiga explicar isso.

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  • 12/09/2012 em 12:03
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    Acho lamentável e desnecessário. Não é negando e condenando um ato passado(literário, fictício), que se impede sua repetição no presente ou no futuro. É preciso encarar sua existência(a obra de Monteiro Lobato, muito boa, por sinal) e trabalhar a questão do preconceito didatica e pedagogicamente com os alunos em sala de aula, ou com as crianças, em casa.
    É uma pena que as soluções, nos dias de hoje, estejam sendo tão imediatistas e radicais. De fato o preconceito existe, mas não é desta forma que terá fim, penso eu.

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  • 12/09/2012 em 14:02
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    Discordo TOTALMENTE do João Carlos!!!!!!!!!!!!!!!
    Toda a obra do Monteiro Lobato é racista, elitista e está obsoleta????? Que absurdo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Me desculpe, mas é muita ignorância sobre o assunto!
    Muitas pessoas – professores inclusive!!!! – dedicaram anos e anos de suas vidas ao estudo dessa obra e esses sim têm como dizer alguma coisa menos generalista e mais apoiada em informações e estudos reais!!!!
    Por essas e outras é que digo que a formação dos professores, desde o Curso Normal, ainda tem que melhorar muito SIM, pois assim poderão conhecer de verdade (e não superficialmente) e debater a respeito dos mais variados temas e de todos os seus prós e contras, com condições de separar o joio do trigo sem precisar da tutela de Estado nenhum para isso!!!
    Desculpem a indignação, mas esse assunto me tira do sério!!!!!!

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  • 12/09/2012 em 14:05
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    Outra coisa: pouco importa o valor literário???????????????????????????? É isso mesmo????
    Então é melhor tirar logo a Literatura da grade escolar, rapaz!!!!
    Que absurdo!!!!
    Aliás, melhor tirar o estudo da História também, já que: ” o público-alvo não tem o discernimento necessário para compreender que o que era “certo” no passado, não é “certo” atualmente. E não há professor que consiga explicar isso.”
    Que absurdooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  • 12/09/2012 em 15:21
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    Regina, pense antes de se exaltar…
    Obrigado pelo “rapaz”, mas certamente não é o caso. Sim, é isso mesmo: pouco importa o valor literário. O público alvo da literatura infantil é incapaz de reconhecer o valor literário. Isso só vai acontecer (ou, pelo menos, deveria acontecer) mais adiante, quando esses alunos tiverem um maior domínio da língua.
    E você pode se exasperar o quanto quiser: Lobato é racista, elitista e pomposo – exatamente o que se poderia esperar de um intelectual brasileiro do início do século passado. Isso em nada diminui a qualidade da obra dele; apenas o torna obsoleto.
    E – se você quer mesmo saber – o ensino de história aborda a matéria de maneira totalmente errada – e chata… – e, por isso mesmo, não ensina coisa alguma.
    Absurdo é insistir que “o que era bom para meu avô e meu pai, foi bom para mim e será bom para meus filhos e netos”.
    Acorda! O mundo mudou (não necessariamente para melhor)

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  • 12/09/2012 em 16:24
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    Brincadeiras a parte acho até engraçado, porque segundo algumas “fofocas históricas”, Monteiro Lobato (que na época era crítico), criticou severamente as pinturas da Semana de 22, e principalmente as obras de Tarsila. Dizem alguns que ela entrou em depressão e acabou viajando para o exterior. Ainda bem que ela podia viajar, imagine um artista que não tem pra onde ir? Como fica? Me desculpem a franqueza, sempre detestei Monteiro L, nada pessoal, primeiro porque eu vivia no centro urbano e o que acontecia eram personagens do interior. E na TV, o que se via eram filmes com crianças sofrendo por maus tratos por causa do trabalho infantil, por isso aquelas histórias não me diziam muito. Desculpem-me. Essa é uma visão pessoal, embora ache atualmente, os desenhos animados desses personagens maravilhoso, porque resgata esse universo mas com uma dimensão mais atualizada.
    Agora vamos avaliar: editoras a parte, por favor… o que pensam os professores, alguém perguntou?

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  • 12/09/2012 em 18:44
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    Sou professora, pedagoga e psicóloga, com bastante experiência em escolas, públicas e particulares. Muuuuuuuuitos pensam como eu!
    E é claro que não tem nada a ver com achar que “o que era bom para meu avô e meu pai, foi bom para mim e será bom para meus filhos e netos”. Desculpe, mas você nem mesmo compreendeu o que escrevi, João Carlos, e, portanto, não vou perder meu tempo discutindo com alguém tão sem base nesse assunto quanto você.
    Concordo com as ponderadas colocações da Bianca e com muito do que o Declev colocou.
    Quanto a Eliane, gosto não se discute, não é mesmo? Eu adorava o Monteiro Lobato, como muita gente, e você não, como outras pessoas. Até aí, tudo bem. Cada um com suas preferências. Mas também sempre vivi em centro urbano e Monteiro Lobato fazia total sentido pra mim! Inclusive você pouco deve tê-lo lido, já que não gostava dele, certo? Eu li a obra toda.
    Uma coisa triste de ver é que os que mais criticam essa obra agora, pouco ou nada a conhecem, pouco ou nada leram e apenas repetem críticas feitas por outros…
    Monteiro Lobato era apenas um homem, com erros e acertos na vida, como todos nós, mas sua obra transcendeu isso e vai muito além de trechos racistas ou elitistas, como estão julgando hoje aqueles que mal leram sua obra. Foi contra a Semana de 22? Foi. E daí? Todos tem que pensar igual? Podemos considerar uma tremenda bola fora dele (eu considero), mas, se vivêssemos naquela época, será que todos os que o criticam hoje por isso teriam realmente uma posição contrária a dele? Duvido!
    Isso é conhecer muito mal o ser humano!!!
    Por essas e outras que acho que o Edgar Morin, por exemplo, tem excelentes idéias sobre o que deveria ser ensinado nas escolas hoje, o que ele tem procurado aplicar lá na França. É um homem do nosso tempo.
    E dizer que o público infantil é incapaz de reconhecer o valor literário de algo é uma ignorância sem tamanho, João, típica de quem nunca trabalhou com crianças, nunca estudou profundamente o desenvolvimento infantil, pouco ou nada conhece sobre literatura infantil e infanto-juvenil, enfim… Lamento muito por ler afirmações tão sem base quanto as suas, João, e diante das quais o sujeito criticado nem mesmo pode se defender pois já morreu há tempos!
    Sugestão sobre quem ouvir sobre a obra do Lobato – Marisa Lajolo -, que tem total base sobre o assunto, gosta do debate e com quem concordo 100%:
    http://www.youtube.com/watch?v=aKAUuOTQ3Vs&feature=colike

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  • 12/09/2012 em 18:58
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    Regina, se você se desse ao trabalho de ler tudo que eu escrevi, teria lido logo no início do meu primeiro comentário: “Infelizmente, toda a obra de Monteiro Lobato para crianças está obsoleta… Digo isto com a tristeza de quem teve a infância iluminada por ela.”
    Não se preocupe em defender Lobato contra minhas “calúnias”. Eu sou um “fã de carteirinha” dele. O que não me impede de ver as falhas dele.
    Fim de papo…

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  • 12/09/2012 em 19:19
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    Eu li TUDO que você escreveu, João, e respondi, inclusive dando sugestões de vídeos ATUAIS onde pessoas da área, com total embasamento, ARGUMENTAM a favor da obra do Monteiro Lobato nas escolas com muita propriedade. Assistiu aos vídeos??? Valem muito a pena!!!
    Lamento que você, mesmo tendo sido leitor do Lobato, como diz, ache que ele hoje está “obsoleto”… Resultado, provavelmente, dessa mentalidade em que vivemos onde tudo é descartável, onde só o novo é valorizado, em todos os sentidos, o que acaba levando muita gente a achar que valorizar coisas antigas, especialmente obras de arte, é “viver no passado”, quando, na verdade, ajuda até a termos uma compreensão muito mais ampla do presente!
    Sou fã dele, como você diz que é, mas também vejo falhas nele, assim como vejo em mim, em você, enfim, em TODO ser humano, mas isso não desmerece a obra dele em nada!
    Concordo em que é melhor finalizamos esse papo agora, já que o tom ficou agressivo e não quero desrespeitá-lo e nem que você me desrespeite. Melhor mesmo pararmos por aqui. Até porque a proposta do Declev, pelo que entendi, era mais a de discutirmos se o professor precisa ou não da tutela do Estado para saber como introduzir e trabalhar esse ou aquele livro com seus alunos.
    Sou contra esse tipo de tutela, Declev. Totalmente contra. Mas acho que a formação dos professores, desde o Curso Normal, tem que melhorar muito, como já escrevi antes, pois o discernimento, o senso crítico e a sabedoria precisam ser construídos no sentido de realmente aprenderem (muuuuuuitos infelizmente não sabem…) a apresentar o conhecimento humano adquirido no decorrer dos tempos nas escolas e NÃO manipulando os alunos ao “fechar” com determinadas posições partidárias desse ou daquele grupo, a não ser citando-as, mostrando que existem, como pensam, etc., mas deixando os alunos livres para serem capazes de fazer suas próprias escolhas.
    Educação sem liberdade de pensamento, de expressão e de escolha não é Educação, na minha opinião.
    Abraços…

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  • 12/09/2012 em 19:35
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    Declev, relendo o que escrevi no final, achei que não ficou claro e repito aqui: o que penso é que o conhecimento deve ser ensinado com todas as suas faces e não de forma manipuladora, já levando os alunos a acharem que essa posição é boa e a outra ruim porque o professor pensa assim.
    Convivi com professores de História, por exemplo, que ensinavam apenas o lado positivo do Stalin que, sabemos, foi um ditador sanguinário! Omitiam essa parte ou a justificavam dizendo que tudo era pelo bem da revolução!!! Eu odiaria ter meu filho sendo ensinado dessa forma por qualquer professor! Isso é um desserviço a democracia e a inteligência humana! É parcial, faccioso e absurdo!
    Quanto ao Lobato, acho que o professor pode e deve debater com seus alunos sobre a obra dele, o tempo em que foi escrita, como era naquele tempo e como é agora, mas mostrando a obra, apresentando todas as faces dela e não apenas aquelas com as quais quer “formar” (ou doutrinar??) seus alunos. Não que o professor não possa dar opiniões pessoais, mas deve lembrar da enorme responsabilidade que tem como formador e, por isso, deve sempre observar como está usando o poder do conhecimento, se pra alargar mentes ou encaixá-las na sua (do professor) própria “fôrma”…

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    • 12/09/2012 em 21:05
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      Regina,

      O problema é que parte-se do princípio, sempre, que o professor é incapaz. É incapaz disso, daquilo, de trabalhar com este ou com aquele.

      Ora, uma “norma técnica” para os professores? Os professores não têm discernimento?

      É impossível um professor não trabalhar com suas opiniões, pois que elas fazem quem ele é. O que não o impede – ou melhor, não deveria impedir – de ver, apresentar e discutir outros lados com os alunos.

      Mas meu artigo nasceu justamente por, mais uma vez, o professor ter que ser “tutelado”, “ensinado”, “capacitado”, “treinado” ou seja lá que palavras quiserem dar. E sobre o quÊ? Uma frase racista em um livro infantil!!!

      Ora, algumas secretarias ainda se dão ao desplante de enviar a revista “veja” às escolas.

      E nunca vi ninguém propondo uma “norma técnica” para os professores ensinando-os que aquilo é uma bosta de revista reacionária e, ela sim, preconceituosa!

      Isso me cansa.

      Resposta
  • 12/09/2012 em 23:20
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    Como já disse, Declev, sou contra qualquer tipo de tutela. Totalmente contra!
    Entendo que isso te cansa e irrita pois sinto o mesmo.
    Mas quanto a dar opiniões pessoais, só se souber separar as coisas e deixar isso bem claro pros alunos, pois eles tem nos professores modelos sim, por mais que pareçam não respeitá-los, e, por isso, as opiniões dos professores tem bastante peso na formação das opiniões dos alunos. E temos que ser justos e apresentar tudo o que existe dentro daquela área de saber que nos cabe e não só aquela parte com a qual concordamos mais. Pra mim isso é uma questão de ética mesmo. Um exercício difícil e diário, mas necessário. Isso é realmente educar e não doutrinar.
    Quanto aos professores precisarem ser melhor capacitados, nisso concordo sim. Precisam. A maioria precisa (você é uma das exceções honrosas). Os cursos de formação são muito fracos ainda (os Cursos Normais então!…). E isso não é exercer tutela e sim fazer Educação também, pois, pra ser um educador, tem que se formar primeiro, certo? Então essa formação precisa ser sempre avaliada e melhorada, não só a do professor, claro, mas a de todo profissional.
    Quanto a questão de ser uma frase racista num livro infantil, acho que merece a discussão sim, até porque o que influencia a criança muitas vezes é o que mais vai pesar pro resto da vida. É a base. É da maior importância. E, por isso mesmo, acho fundamental ler Monteiro Lobato, debater Monteiro Lobato, ver todas as belezas e brasilidades de sua obra e, também, o lado menos “bonito” dela, contextualizando-a, conversando com os alunos, ouvindo-os também, descobrindo juntos.
    Assista os vídeos que sugeri. São muito bons! Acho que você vai gostar.
    Um abraço…

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  • 17/09/2012 em 11:51
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    Talvez a Regina devesse ser negra para entender a questão ou, ao menos, vislumbrá-la. Eu sou, aparentemente, branca.
    A leitura de lobato faz com que o racismo seja introjetado nas crianças que não são negras, como natural e legítimo. Para as crianças negras, sobra a humilhação.
    Li toda a obra de lobato e, na época, não percebi o racismo nela exposto. Claro, ele não me afetava. Mas, é óbvio, deixou sequelas que eu queria poder apagar. Prefiro que as crianças leiam obras que despertem bons sentimentos e ajudem no bom convívio entre os diferentes. Esses livros maravilhosos de m. lobato as crianças podem ler em outro momento, se quiserem.
    Antes que esta seja respondida com muitas exclamações, minha solidariedade ao João Carlos.

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  • 17/09/2012 em 13:44
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    Solidariedade? Que coisa! Não houve uma guerra aqui e sim uma discussão!!! Vc pode concordar com o João Carlos, Maria, claro. Mas solidariedade, como se ele estivesse sendo atacado? Acho que não é o caso.
    Discutimos opiniões diferentes e foi uma discussão acalorada sim, mas só isso.
    Eu sou branca, como vc, Maria, e daí?
    Sofri muita discriminação na vida, por outros motivos, sofri bullying minha infância inteira e boa parte da adolescência, fui discriminada por outros motivos também na vida adulta, então sei muito bem o que é ser humilhada e tratada como “inferior” ou “diferente”, no pior sentido da palavra.
    Mas acho uma outra bobagem enorme, que muitos repetem por aí, que vc tem que ser negra para entender o mal que o Lobato fez… blá,blá,blá.
    A escola nem deveria existir, então, se só aprendêssemos as coisas com a experiência direta, já que a escola é transmissora de conhecimentos!!! Esse é um dos maiores absurdos que ouço de vez em quando e cansa só de ouvir. Coisas como: “vc não mora em favela, então não pode saber e nem falar nada a respeito pois não sabe o que é!”, ou “vc não é professor de sala de aula de adolescentes de periferia em escola pública, então não sabe como é, e, portanto, não pode falar nada sobre isso!”, e por aí vai. Poderia dar milhões de exemplos, mas acho que esses bastam, no momento.
    Quanto a obra do Lobato, ela coloca a Tia Nastásia com a mesma importância da Vó Benta o tempo todo, como se elas se completassem, uma com a cultura letrada e outra com a cultura popular, IGUALMENTE importantes, além do sábio personagem do Tio Barnabé e da esperteza e inteligência do Saci, entre outros exemplos que eu poderia ficar horas citando aqui, mas não vale a pena. Sugeri dois vídeos geniais para assistirem sobre o assunto. Alguém assistiu??? Ou é mais cômodo permanecer sempre com a mesma opinião e não ter coragem de revê-la??? Eu posso garantir que estou sempre revendo as minhas opiniões, mas, para isso, ouço quem acho que realmente merece todo o meu respeito e vai me acrescentar alguma coisa. Os argumentos que alguns tem usado conta o Lobato são tão absurdos, NA MINHA OPINIÃO ( e de muita gente), tão sem embasamento na própria obra dele, que realmente só posso lamentar.
    Maria disse: “Prefiro que as crianças leiam obras que despertem bons sentimentos e ajudem no bom convívio entre os diferentes.” Pois se é esse seu argumento, deveria reler Lobato, pois é EXATAMENTE isso que ele faz em sua obra!!!!!!! Mas será que vc é capaz de esvaziar a mente e ler a obra dele sem o preconceito que, agora sim, já te incutiram contra ele, para, aí sim, poder ter a SUA própria opinião???? É uma questão.
    Quanto às exclamações, sou assim mesmo, “sanguínea”, neta de italiano, enfim… É o meu jeito e me serviu bem para enfrentar poderosos e lutar por muita coisa na vida, inclusive na Educação.
    Repito o que penso: discutimos OPINIÕES aqui, podemos achar que esse ou aquele ponto de vista não tem base, mas isso não é uma guerra. Isso é DEMOCRACIA!
    Portanto, nunca esperem de mim um “amém” ao que parece estar virando senso comum em alguns meios. Tenho horror a senso comum!!! Pra mim, ele só serve para estreitar mentes e corações e dar a falsa idéia de “segurança” e “proteção” por ter encontrado, aparentemente, a sua “turma”… Acho triste e lamentável.
    É a minha OPINIÃO. Só isso. Se vc, Maria, ou se o João, se derem ao trabalho de ler outras opiniões que já dei neste mesmo blog, que, aliás, respeito muitíssimo (e o Declev sabe disso), poderão concordar com algumas e discordar de outras. Tudo bem. Isso é muito natural.
    Repito e finalizo aqui: isso aqui não foi uma guerra e sim uma discussão (debate). Só isso.

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  • 30/09/2012 em 18:48
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    Concordo com vcs, João Carlos, Eliane e maria ribeiro. Aliás, parabenizo vcs por saberem expor suas opiniões de forma concisa e sem ataques grosseiros.
    Acho lamentável “endeusarem” tanto um escritor do passado, como se não houvesse tantos outros ainda melhores no presente, com suas histórias educativas e que procuram respeitar as diferenças. Somente uma criança negra sente o constrangimento de ler, junto com seus colegas, histórias em que elas são chamadas de “beiçudas”, “macacas”, “carne preta”, etc. Na minha opinião, devemos estar sempre abertos à evolução, não podemos fazer como o Monteiro Lobato que, tão preconceituosamente, julgou os brilhantes artistas modernos.
    O que me deixa boquiaberta é saber que toda essa polêmica surgiu por causa de meras notas de rodapé que vão acrescentar nos livros. Ninguém vai “macular” as obras (o que pra mim, seria ótimo), retirando ou trocando os termos racistas.

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  • 30/09/2012 em 21:25
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    Assista aos vídeos (coloquei 2 ótimos aqui), Carol! Ouça quem entende profundamente do assunto!! Quando um artista é bom, é atemporal! Ou vc gostaria de notas de rodapé em todas as obras clássicas de grandes autores do “passado”????
    Quanto a expor opiniões com ataques grosseiros… Essa é a sua opinião, certo? Não é uma “verdade”. A meu ver, fui sangue quente sim, mas usei muitos argumentos, até porque tenho bastante conhecimento desse assunto e não fico de “achismos” em relação a ele, só repetindo o que outros andam dizendo sem base nenhuma.
    A censura é algo abominável – vivi o tempo em que, infelizmente, ela era muito comum em nosso país -, ainda mais em obras de arte, e colocar essas tais notas de rodapé já são um início horroroso disso.
    Se é pra pescar palavras soltas na obra do Lobato, existem milhões de outras; por que só se falam nessas agora? É uma perseguição pura e simples! Uma mania exagerada de tudo ter que ser “politicamente correto” de acordo com uma visão sem nenhuma imaginação e arte.
    Quanto a Semana de Arte Moderna, Lobato mudou de idéia ainda em vida, sabia? Ele foi um homem, que errou e acertou, como todos nós, mas foi um artista brilhante que deixou um legado maravilhoso e isso, tenho certeza, nenhum de nós aqui chega aos pés!! O cara merece todo o meu respeito e o aplaudo de pé!
    Toda a obra infantil dele fala justamente do convívio entre as diferenças, fala da imaginação, da criatividade, da cultura brasileira, da inventividade, entre tantas outras belezas que, hoje em dia, muitos criticam sem nem ter lido!!!!! E os que leram, na minha opinião, deveriam reler, antes de aceitar a perseguição que estão fazendo com o Lobato!
    Vamos chegar no tempo de queimar livros em praça pública de novo???? Porque com toda essa polêmica, notas de rodapé, acusações de racismo, os livros dele já tem sido queimados talvez de uma forma ainda pior, estimulando o preconceito e a falta de conhecimento!
    Sempre lutei por um país muito diferente disso que estou vendo. Lamento muitíssimo toda a covardia diante desse artista e de tantos outros artistas e pensadores, que, por terem sido corajosos enquanto viveram, e não omissos, se expuseram a ataques pelas costas, dos quais não podem nem se defender, por não estarem mais aqui…

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