Mais dinheiro para a educação para quê? Se for pra mais do mesmo, é melhor não ter

Em muitos fóruns de discussão, grandes figuras, pensadores e educadores bradam por mais dinheiro para a educação.

Baseiam-se agora na questão do PIB, sugerindo que sejam destinados 10% deste para a educação.

Uma pequena busca na internet traz milhares de exemplos.

Mas penso que há uma discussão anterior a ser feita: será, realmente, que falta dinheiro à educação?

E, outra pergunta: para qual educação estamos querendo mais dinheiro?

Se for para esta educação atual, destinando dinheiro do jeito que está se fazendo, digo: não dêem mais dinheiro apra a educação!

Por quê?

Porque não gostaria que mais aproveitadores e usurpadores ganhem dinheiro da educação com as falcatruas, com os bilhões desviados “legalmente” para atividades ditas “da educação”, mas que sabemos que são somente formas de repassar dinheiro para empresas e ONGs de amigos, conhecidos e partidários.

São vários exemplos:

Temos desvios de dinheiro da educação com compras superfaturadas e mentirosas de merenda;

Há grandes desvios com serviços, como com a Clin (em Niterói) para a limpeza;

Pegam o dinheiro da educação pública para destinar a ONGs, universidades ou empresas para fazer “formação” ou mesmo para aplicar “métodos” de ensino “eficazes” para aqueles que “’não sabem dar aulas”, os professores;

Apesar da importância dos livros didáticos, o dinheiro da educação é utilizado com milhares de livros didáticos que as escolas não têm nem onde colocar, e jogam fora, verdadeiro desperdício e, o que é pior, beneficiando apenas meia dúzia de grandes editoras [o que, por si só, é muito estranho];

Utiliza-se também com a compra-se toneladas de materiais didáticos que os alunos jogam fora em poucos dias ou semanas (cadernos, mochilas, etc.).

Deixe-me explicar antes que me julguem sem razão: NÃO ESTOU DIZENDO que a compra de livros, de materiais didáticos, de merenda ou seja lá o que for não é importante para a educação e não é investimento em educação!

Estou dizendo que utiliza-se disso para DESVIOS do dinheiro da educação.

Entendido isso, afirmo que, antes de se conseguir mais dinheiro para a educação, tem-se que definir regras claras para o uso desta verba; tem-se que punir [que seja em dobro!] quem se utiliza da verba da educação de forma ilícita; tem-se que saber exatamente o que é ou o que não é “para educação” com esta verba.

Gastar-se MILHÕES com uma empresa de limpeza para meia dúzia de escolas é uso adequado da verba da educação? Esta verba não poderia ser melhor utilizada, mesmo que ainda investindo na limpeza das escolas??

Desta forma, se é para ter mais dinheiro para a educação, que se faça antes disso, com o dinheiro que já existe, o uso com parcimônia, com lisura, com apoio, conhecimento, fiscalização e autorização dos próprios profissionais da educação.

Depois disso, ver-se-á que a educação já tem muito dinheiro para fazer o que se deve fazer de verdade:

Pagar bem aos profissionais da educação para se dedicarem a uma só escola [sem que estes tenham que estar o tempo todo dentro de sala de aula, mas também trabalhando pela escola e pela educação fora de sla de aula];

Implantação de escolas de tempo integral;

Profissionais de apoio aos professores na escola [inspetores, agente educadores, pscólogos, agentes de saúde, etc.];

Escolas estruturadas, com salas de aula equipadas, salas “coringas”, salas ambiente, quadras de esportes decentes, refeitórios decentes, materiais pedagógicos, pátios para recreio e brincadeiras…

Se, depois de implantadas as ações acima para uma boa educação ainda faltarem verbas, aí sim pode-se pensar em aumentá-las.

De resto, senhores gestores da educação e do dinheiro público, a escola tem que ter autonomia para gerenciar e gastar: materiais pedagógicos para os alunos, livros, merenda…

Cada escola sabe suas necessidades, então o dinheiro pode muito bem ser gasto por elas mesmas, tendo-se como mecanismo de controle os próprios cidadãos ligados a cada escola: professores, outros profissionais da educação, responsáveis dos alunos, etc.

Assim, pode-se acabar com a roubalheira do dinheiro da educação e gastá-lo com o que de fato seja educação.

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

2 thoughts on “Mais dinheiro para a educação para quê? Se for pra mais do mesmo, é melhor não ter

  • 23/06/2011 em 10:41
    Permalink

    Enquanto isso nas escolas as salas que eram bibliotecas desapareceram e passaram a ser à sala de informática. Os livros estão guardados dentro de caixas, entulhados ou na estantes cheios de poeira. Os livros estão num cantinho da escola.
    Dá pena de ver.
    Enquanto isso

    Resposta
    • 23/06/2011 em 13:56
      Permalink

      Pois é, Rosangila, isso vem a confirmar o que eu digo: o problema, por exemplo, no seu caso, não é dinheiro…

      Abraços,

      Resposta

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