Desabafos de colegas professores

Recebi estes dois textos abaixo por email, já faz uns dois meses.

Pedi autorização aos autores para a divulgação, ao que fui atendido.

Acho importante divulgarmos estas situações.

Longe de atingir apenas os professores e de nos atrapalhar o trabalho, a situação encontrada em muitas escolas atrapalham aqueles que mais precisam dela, os alunos.

Nunca nunca nunca pensem que essas coisas não tem a ver com o péssimo resultado conseguido por eles (e por nós, por tabela).

Agradeço aos colegas professores e me solidarizo com seus sentimentos. Sei o que é. Se ocorre algo deste tipo na minha escola, cheia de grades e escadas, consequências graves nos esperam.

Afinal, eu sei o que é “três andares de salas de aulas, operar com dois inspetores de alunos (…) salas superlotadas, pouco ventiladas e com mobiliários precários”.

Mas, como disse a nossa secretária, se um aluno repete, é sinal que o professor falhou…

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A VOZ DA PROFESSORA (Ou: Sobre Gás, Asfixia e Educação)

Na última quinta-feira,  24 de setembro, na Escola Municipal Desembargador Oscar Tenório, onde leciono em Sala de Leitura, vivemos uma situação de alta gravidade, quando um gás asfixiante tomou os espaços do grande prédio, gerando pânico, como nos filmes americanos de catástrofes.

A forte ardência nos olhos e na garganta, aliada à atmosfera geral de desespero, arrancaram-me,  às pressas, da sala. Infiltrei-me na multidão que descia as escadas, buscando salvação. Em seguida, senti uma dor aguda, após a visão inusitada do meu joelho girando bruscamente. Travei. Já não podia mais buscar a saída. Mas, brotando da aflição geral, o Universo enviou-me dois alunos que me conduziram no colo até um táxi, e, depois, ao hospital.

Comenta-se que o autor do ato de vandalismo seria um estudante da própria escola. Hoje, com a perna imobilizada, e impedida de trabalhar, recobro meu equilíbrio emocional , que se esvaiu nas muitas lágrimas de ontem, para expressar minha visão sobre a estrutura a que estamos entregues.

Nós, professores, diretores, coordenadores, guerreiros idealistas, que lidamos intimamente com o dia-a-dia das escolas, somente nós sabemos as dificuldades enfrentadas para exercermos nosso ofício. Como mágicos criativos, tentando retirar, da velha cartola da Educação, um pombo milagroso que nos ajude a melhor realizar nossa tarefa amorosa e digna, de informar e formar personalidades.

Nossa bela e árdua tarefa de ensinar, em meio ao caos social que se reflete nas salas de aula superlotadas, e nos colégios sem inspetores suficientes. E, sobretudo, sem orientadores educacionais, ou psicólogos, parceiros  essenciais à demanda crescente de adolescentes com graves problemas emocionais (que nem sempre a família absorve). Problemas que temos de enfrentar, mesmo sem qualificação profissional especializada, e em detrimento da nossa saúde física, emocional e psicológica.

CARMEN MORENO

Professora e escritora

DESABAFO DE UM PROFESSOR

Sou professor há 20 anos. Trabalhei em algumas grandes escolas particulares do Rio de Janeiro. Sou concursado do Município há 16 anos e do Estado há 18 anos. Gosto do que faço e dedico o meu tempo à minha família e ao meu trabalho. Atualmente trabalho no Colégio Teresiano, no Colégio Estadual André Maurois e na Escola Municipal Oscar Tenório. Todas as três situadas no bairro da Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Em todo esse tempo de magistério e com toda experiência que acumulei, nunca pude imaginar que um dia fosse presenciar as cenas lamentáveis que ocorreram nesta última quinta-feira, dia 23/09, pela manhã, na Escola Municipal na qual trabalho. Nós professores passamos por momentos de terror e nosso único propósito naquele momento era preservar a vida daqueles alunos que foram expostos a um suposto gás tóxico que se espalhou rapidamente pelos corredores da nossa escola, pouco ventilada, em questão de minutos! Vivenciei situações que mais pareciam uma praça de guerra, com várias crianças intoxicadas, lacrimejando e com falta de ar, sendo atendidas por paramédicos e bombeiros do outro lado da rua.

Não escrevo para condenar o aluno, suposto autor dessa atrocidade, pois acredito que seja mais uma vítima desse nosso sistema perverso. Escrevo em tom de desabafo para lamentar e denunciar a nossa absoluta falta de estrutura de trabalho. Um episódio desses só demonstra a nossa fragilidade enquanto Instituição de Ensino. Certamente quando fui contratado, o Município esperava de mim alguém que pudesse ensinar Ciências para os alunos e não prestar primeiros socorros ou ajudar a evacuar o prédio de uma escola numa situação de pânico. Onde vamos parar com isso?

Até quando vamos fechar os olhos para a triste realidade das Escolas Públicas? E olha que estou falando de uma escola num bairro nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro, tida como uma escola de referência da Rede Municipal. Do que adianta a Prefeitura avaliar os alunos com provas de Português e Matemática se não enxerga as condições de trabalho do professor? Como pode uma escola com mais de 1.000 alunos, com três andares de salas de aulas, operar com dois inspetores de alunos? Como pode o professor obter bons resultados com salas superlotadas, pouco ventiladas e com mobiliários precários? Qual o estímulo que esses alunos têm para aprender? A melhor avaliação que pode ser feita é entrar na escola, verificar de perto o seu funcionamento, conversar com os funcionários e conhecer as suas reais necessidades.

Lamento muito pelas crianças que querem aprender e não podem. Alunos que querem ter uma oportunidade na vida e não conseguem. Até quando continuaremos a reforçar essa desigualdade? Eu como professor, me sinto muito triste diante dessa realidade. Gostaria muito de oferecer aos meus alunos a mesma qualidade de ensino que tenho no Colégio Teresiano. Afinal trata-se da mesma Cidade, do mesmo Bairro e do mesmo Professor. Infelizmente me faltam condições de trabalho. Trocaria o meu notebook por isso.

PS. O notebook foi dado pela Prefeitura a todos os professores da Rede Municipal em 2008.

Rio de Janeiro, 25 de Setembro de 2009.

Marcello Bressane Rezende Guimarães

Professor

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

6 thoughts on “Desabafos de colegas professores

  • 13/12/2009 em 21:21
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    Primeiro, quero me solidarizar com todos os funcionários e alunos da Escola D. Oscar Tenório. Trabalhei lá apenas dois anos mas pude testemunhar e participar do esforço que toda a equipe tem feito para desenvolver um trabalho diferenciado de valorização do aluno, principalmente, através da arte.
    Conheço o trabalho incrível que a Carmem, sempre com o maior prazer, faz com os alunos: teatro de primeira qualidade. E fico muito triste em saber que todo esse trabalho, não só o dela como o de toda a equipe da escola, um trabalho que sobreviveu a tantas mudanças na educação, pode acabar. Não vou discutir se o aluno que cometeu esse atentado contra, no mínimo, a saúde de todos os presentes naquele momento, é ou não uma vítima desse sistema que penaliza a todos nós. Vítima ou não, deve ser responsabilizado. Faz parte do aprendizado na escola e na vida.
    Quanto a nós,responsáveis diretos pelo dia a dia da escola, já está passando da hora de enfrentarmos essa situação de frente. Sei que dá um cansaço muito grande só de pensar na grande briga que vem por aí mas não estou vendo outra saída. O prefeito e a secretária têm que entender que com a Educação não se brinca. A coisa está ficando cada vez mais feia… hora de agir.
    Dirce.

    ..

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  • 13/12/2009 em 21:47
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    Me solidarizo com os colegas professores e tenho uma história parecida para relatar, embora menos grave.

    Há uns 3 anos atrás, estava eu com uma turma de 6º ano, desenvolvendo um trabalho de Orientação Educacional, quando sentimos um forte cheiro de queimado e muita fumaça chegando. Gritaram: está pegando fogo na sala ao lado!
    Bem, a única saída da sala onde estávamos era grudada na entrada justamente da sala onde o fogo estava se propagando!Tivemos que sair assim mesmo, correndo, pois nem janelas tínhamos pra pular, já que eram todas gradeadas. Foi um susto horrível!
    O fogo acabou controlado porque uma professora pegou o extintor de incêndio de seu carro e correu pra lá e os funcionários chegaram rapidamente com baldes de água. Fiquei na escola ajudando as pessoas a saírem, tentando controlar o pânico.
    Por sorte não estava faltando água na escola naquele dia (vive faltando água lá) e assim, aos poucos, o fogo foi extinto.
    Bombeiros? Que nada! Nós mesmos é que tivemos que resolver tudo!
    Graças a Deus o fogo não se espalhou para além daquela sala de aula e ninguém se machucou. A sala ficou impossibilitada de ser usada por um bom tempo, o cheiro de queimado permaneceu por dias e o susto ninguém esqueceu.
    Não foi vandalismo de ninguém. A causa foi um curto em um dos poucos ventiladores que ainda funcionavam na escola e que os alunos haviam ligado lá, pois o calor estava insuportável…
    O fato é que toda a parte elétrica da escola estava perigosa, sem manutenção, cheia de falhas e outros curtos e acidentes como aquele poderiam acontecer cada vez mais.
    Acham que a SME mandou alguém para resolver o problema rapidamente? Claro que não!
    A situação foi se arrastando e só depois de muitos meses é que se começou a consertar a parte elétrica da escola, muito mais por própria iniciativa da escola do que da SME.

    É com isso que temos que conviver. É com esse descaso das autoridades, é com todo tipo de riscos diários e é contando com algum tipo de “sorte” ou “proteção divina” para que o pior não aconteça…
    A que ponto chegamos!!!!!
    A Educação Pública é tratada como lixo, desde os profissionais que nela trabalham até os seus alunos, estes vindos de classes sociais super exploradas e miseráveis, que já são tratadas assim há anos em nosso país.
    É de enlouquecer qualquer um!!!!
    Enfim…

    Eu estou de licença médica, estressadíssima com toda essa realidade (estou com Síndrome de Burnout), e, provavelmente, estarei “jogando a toalha” a qualquer momento…

    Abraços a todos,
    Regina.

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  • 28/09/2010 em 18:36
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    eu sei quer ñ devemos condenar o aluno mas devemos punilo,de uma forma bem rigida

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  • 13/04/2011 em 21:57
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    posso falar… posso esperniar…posso chorar…posso ficar triste… posso sofrer…E aí, o que eu posso fazer para mudar essa tarja enorme que impuseram ao nosso Brasil,eu tenho tantas perguntas, que doi o meu coração, todos os dias passo em frente a escolas e vejo tudo que não deveria ver, olho as crianças e mais perguntas me vem ao pensamento, porque os filhos do secretario de educação de minha Manaus, não estuda aqui conosco, porque… porques…Quem foram são os mestres que semearam tanta desiguldade no coração de nossas autoridades, quando foi que perderam seus sonhos simples, onde deixaram de serem humanos, onde dormem os que não dormem sem fazer o mal sem olhar a quem, quem lhes rouba o amor, porque me ensinaram um amor que é raro de se encontrar em voces, nossas autoridades! porque so de cem em cem anos anda voce educação.Estou sem interrogação…

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