Entreouvido em sala de aula n. 1 – 23/06/09

“Ai professor, chega, não aguento mais escrever” [depois de exatos três parágrafos de texto].

“Professor, tô com uma vontade de peidar…” [sem comentários].

“Professor, eles estavam fazendo aquilo na aula passada pra te irritar e você gritar com eles. Falo logo!” [joguei muita pedra na cruz, e uma delas com certeza acertou o alvo].

“Professor, eu não trouxe o livro” [novidade…].

“Grrrrrrrrrriii” [rugido grutural soltado de vez em quando por um aluno ou aluna que não consegui identificar. E nem quis saber de onde veio].

“Professor, posso ir no banheiro?” “Ela vai dar uma cagada” –“Eu vou dar uma cagada!” [diálogo simpático].

“Uaaaaaaaaaaarrrlllmmm” [aluno se espreguiçando na cadeira enquanto a inspetora de turno fala sobre a bagunça que estão fazendo no recreio, pedindo educação na hora o lanche].

“Cheio de sapinho na boca, cheio de sapinho na boca! A barata beija ele todo dia!” [um ‘amigo’ sacaneando o outro].

“Caralho, vou te dar uma porrada, hein?!?” [um ‘amigo’ para o outro].

“Ele faz a cueca da cortina do banheiro” [aluno falando de um ‘amigo’ mais cheínho].

“Cala boca aí, ô chupeta de vulcão!” [pedido de silêncio gentil, de um ‘amigo’ para o outro].

“O Tio… professor!, a 4 é reposta nossa ou é dquele bagulhete ali?” [sábia pergunta sobre a pergunta sobre o texto].

“Professor, não apaga ali não!” [aluno, no final de duas aulas de 45 minutos, pedindo para que eu não apagasse o texto do quadro a partir do 4o parágrafo].

Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor [por enquanto]

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

7 thoughts on “Entreouvido em sala de aula n. 1 – 23/06/09

  • 23/06/2009 em 23:13
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    Ora, Declev… Tirando o baixo calão, todas essas eu ouvi quando era aluno (nos anos 50/60 do século passado, minha nossa!…) As noções básicas de polidez se foram, mas a letargia mental ainda é a mesma (e olha que eu estudei, em sequência, nos Colégios Santo Inácio, Andrews e Estadual André Maurois – nos tempos da Henriette Amado — tudo “alta classe média” da Zona Sul do Rio de Janeiro).

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  • 24/06/2009 em 12:12
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    Como o João Carlos, eu também ouvia tudo isso no meu tempo de aluna (anos 60/70)…
    Muitas coisas são próprias da adolescência, tais como: falar muito palavrão, desafiar toda e qualquer autoridade, ter “tribos” onde todos se vestem, falam e se comportam de um jeito próprio, valorizar acima de tudo o grupo de amigos e não o que os adultos dizem… e por aí vai.
    Trabalhando numa realidade cada vez mais violenta, não tem como essa violência, verbal e física, não aparecer na escola.
    O que mais dói, em mim, é ver o desinteresse cada vez maior (e não é só doa alunos não!) por todo e qualquer conhecimento que não vá trazer, a curto prazo, “vida mansa e altos salários”…

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  • 24/06/2009 em 13:58
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    Pois é meu querido amigo, aqui também é assim. Quando estão soltos no recreio, intervalo ou no período vago (por um colega ter faltado) as coisas pioram, como num dia: tive que chamar a atenção de um grupo (umas 9 mocinhas e 1 rapaz) que entrou no mesmo banheiro e fecharam a porta.
    “E não é só isso”…
    Hoje (24/06/09) me estressei com uma monitora (inspetora), a criatura me invade a sala pra dizer que o horário de aula havia terminado (eram 12:00 hs e o certo é 12:10) porque tinham que limpar a sala. Na real, faltaram muitos colegas e quase todas as turmas tinham sido dispensadas mais cedo, restando esta em que eu estava dando aula. E a criatura queria almoçar mais cedo e ficar de bobeira por lá. Mas não deu outra, terminei a aula e fui tomar satisfação. Só espero que ela não tenha conhecidos “gente boa”.
    Saudações e um grande abraço
    Franc Knap Jr.
    Professor [por enquanto, também]

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  • 26/06/2009 em 12:36
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    Oi, resolvi publicar o teu texto em contraponto a um outro texto do Rubens Alves, sobre a arte de ouvir… tudo e tão lindo no papel…na pratica e preciso ser um yogue, um deva, e preciso se agarrar a arte de ser professor… ô, Declev, meu amigo, compartilhando…nosso sofrimento… eu, desisti, imagina uma professora de música ensinando que a música e feita de sons e silêncios…

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  • 30/06/2009 em 18:56
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    Professor [por enquanto] =D

    Hehehe, já ouvi várias frases neste estilo na minha época de colégio. Se bem que naquela época tinha hora de brincar e hora de estudar.

    Volta com o top comentadores, dou valor me ver ali na lista…

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  • 07/07/2009 em 07:59
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    Declev, a situação é a mesma aqui no ES.
    Ao ler as frases me teletransportei pra sala da 8ª série… Tenho uma aluna que, só de me ver pegar a caneta, já fala “Ahhh, professora… já vai encher o quadro?!.
    E levo na brincadeira e até faço piadinha com a situação. É melhor do que adoecer por causa dessas coisas…
    Um grande abraço.

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  • 31/08/2011 em 20:50
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    Rapaz!Faz tempo que não ouço essas coisas!Até esqueci a sensação de desespero,de raiva,de frustração que essas frases me causavam…quando dava aulas.Estou de licença há mais de 2 anos e tomando 3 (!!!)antidepressivos por dia.Agora sou músico em tempo integral e não pretendo voltar a dar aulas.

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