Fichamento de artigo de Fritjof Capra: Falando a linguagem da natureza

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CAPRA, Fritjof. Falando a linguagem da natureza: Princípios da sustentabilidade. In STONE, M.K.; BARLOW, Z. (orgs.). Alfabetização Ecológica: a educação das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006 (p. 46-57).

“Podemos criar sociedades sustentáveis seguindo o modelo dos ecossistemas da natureza. Para entendermos os princípios organizacionais que os ecossistemas desenvolveram ao longo de bilhões de anos, temos que conhecer os princípios básicos da ecologia – a linguagem da natureza” (Capra, 2006: 47).

“A estrutura conceitual mais apropriada para se entender a ecologia hoje é a teoria dos sistemas vivos [As Conexões Ocultas – outro livro]” (Capra, 2006: 47).

“O que é um sistema vivo? Quando caminhamos em meio à natureza, o que vemos são sistemas vivos. (…) todo organismo vivo (…) as partes dos sistemas vivos (…) as comunidades de organismos (…) são sistemas vivos” (Capra, 2006: 47-48).

“Eu refleti muito sobre por que as pessoas acham tão difícil pensar em termos sistêmicos e concluí que existem duas razões principais para isso. A primeira é que os sistemas vivos são não-lineares – são redes – enquanto toda a nossa tradição científica está baseada no pensamento linear – cadeias de causa e efeito” (Capra, 2006: 48).

“No pensamento linear, quando algo funciona, conseguir mais disso sempre é melhor. (…) entretanto, os sistemas vivos bem-sucedidos são altamente não-lineares. Eles não maximizam as suas variáveis: eles as otimizam. Quando algo é bom uma quantidade maior desse algo não será necessariamente melhor, uma vez que as coisas andam em círculos, não em linhas retas. A questão não é ser eficiente, mas ser sustentável. O que conta é a qualidade, não a quantidade” (Capra, 2006: 48).

“Também temos dificuldade para pensar em termos sistêmicos porque vivemos numa cultura materialista, tanto com respeito a seus valores quanto à sua visão de mundo essencial” (Capra, 2006: 48).

“Uma vez que os sistemas vivos são não-lineares e estão baseados em padrões de relacionamento, para entender os princípios da ecologia é preciso uma nova maneira de ver o mundo e de pensar – em termos de relações, conexões e contexto – o que contraria os princípios da ciência e da educação tradicionais do Ocidente” (Capra, 2006: 48).

“Os sistemas vivos são totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às suas partes menores” (Capra, 2006: 49).

“As comunidades, sejam elas ecossistemas ou sistemas humanos, são caracterizadas por séries ou redes de relações. Na visão sistêmica, os ‘objetos’ de estudo são redes de relações, embutidas em redes maiores” (Capra, 2006: 49).

“As propriedades das partes não são intrínsecas, mas podem ser entendidas apenas dentro do contexto do todo. Como explicar as coisas em termos dos seus contextos significa explicá-las em termos dos ambientes que as circundam, todo pensamento sistêmico é um pensamento ambiental” (Capra, 2006: 49).

“Entender as relações não é fácil, especialmente para quem foi educado de acordo com os princípios da ciência ocidental, que sempre sustentou que só as coisas mensuráveis e quantificáveis podem ser expressas em modelos científicos. (…) Nem todas as relações e contextos, entretanto, podem ser colocados numa escala ou medidos com uma régua” (Capra, 2006: 49).

“Dificilmente existe algo mais eficaz do que a arte para desenvolver e aperfeiçoar a capacidade natural da criança de reconhecer e expressar padrões” (Capra, 2006: 50).

“Como todos os sistemas vivos têm em comum conjuntos de propriedades e princípios de organização, o pensamento sistêmico pode ser aplicado para integrar disciplinas acadêmicas antes fragmentadas” (Capra, 2006: 50).

“Por meio da aplicação da teoria dos sistemas às múltiplas relações que interligam os membros da família terrena, nós podemos identificar conceitos essenciais que descrevem os padrões e os processos pelos quais a natureza sustenta a vida. Esses conceitos, o ponto de partida para a criação de comunidades sustentáveis, podem ser chamados de princípios da ecologia, princípios da sustentabilidade, princípios da comunidade ou mesmo de fatos básicos da vida. Precisamos de currículos que ensinem às nossas crianças esses fatos básicos da vida” (Capra, 2006: 51).

“Nós, do Centro de Eco-Afabetização, entendemos que, para solucionar um problema de maneira duradoura, precisamos reunir as pessoas que lidam com as diferentes partes desse problema em redes de suporte e diálogo” (Capra, 2006: 51).

“Em todas as escalas da natureza, encontramos sistemas vivos ‘aninhados’ dentro de outros sistemas vivos – redes dentro de redes. Embora os mesmos princípios básicos de organização operem em cada escala, os diferentes sistemas representam níveis diferentes de complexidade” (Capra, 2006: 52).

“Dentro de sistemas sociais como as escolas, as experiências individuais que a criança aprende são dadas pelo que acontece na sala de aula, que está aninhada dentro da escola que, por sua vez, está inserida no distrito escolar e este nos sistemas escolares regionais, nos ecossistemas e sistemas políticos” (Capra, 2006: 52).

“A sustentabilidade das diferentes populações e a sustentabilidade de todo o ecossistema são interdependentes. Nenhum organismo individual pode existir isoladamente” (Capra, 2006: 52).

“A sustentabilidade sempre envolve a comunidade na sua totalidade. Essa é a lição profunda que temos que aprender com a natureza, As trocas de energia e recursos em um ecossistema são mantidas pela cooperação de todos” (Capra, 2006: 53).

“O papel da diversidade está estreitamente ligado às estruturas de rede dos sistemas. Por conter muitas espécies com funções ecológicas sobrepostas que podem substituir umas às outras, o ecossistema diversificado é capaz de se recuperar rapidamente” (Capra, 2006: 53).

“Quanto mais complexos forem os padrões de interconexão da rede, mais rapidamente eles poderão se recuperar” (Capra, 2006: 53).

“Nas comunidades humanas, a diversidade étnica e cultural pode exercer o mesmo papel que a biodiversidade exerce num ecossistema” (Capra, 2006: 53).

“No Centro de Eco-Alfabetização nós descobrimos que não existe nenhum currículo de sustentabilidade do tipo ‘tamanho único que sirva para todos’. Nós incentivamos e apoiamos diferentes abordagens a cada problema, com diferentes pessoas em diferentes lugares adaptando o ensino dos princípios da ecologia a situações que são diferentes e que estão sempre se alterando” (Capra, 2006: 53).

“Por meio da teia da vida, a matéria está sempre se reciclando. A água, o oxigênio do ar r todos os nutrientes estão em constante reciclagem” (Capra, 2006: 54).

“A interdependência é muito mais real nos ecossistemas do que nos sistemas sociais, já que os membros de um ecossistema literalmente devoram uns aos outros” (Capra, 2006: 54).

“A lição para as comunidades humanas é óbvia. O conflito entre economia e ecologia surge porque a natureza é cíclica, enquanto os processos industriais são lineares” (Capra, 2006: 54).

“O princípio ecológico ‘detrito igual a comida’ significa que – para um sistema industrial ser sustentável – todos os produtos e materiais manufaturados, como também os detritos gerados durante os processo de manufatura, têm que acabar provendo alimento para algo de novo” (Capra, 2006: 54).

“Uma sociedade sustentável usaria apenas a quantidade de energia que ela fosse capaz de captar do sol; reduziria as suas demandas de energia, usando os seus estoques de energia de forma mais eficiente e captando o fluxo de energia solar de maneira mais eficiente por meio de aquecimento solar, eletricidade fotovoltaica, energia eólica e hidrelétrica, biomassa e outras formas de energia que são renováveis, eficientes e benignas ao meio ambiente” (Capra, 2006: 55).

“Todos os sistemas vivos se desenvolvem e todo desenvolvimento envolve aprendizagem” (Capra, 2006: 55).

“Os indivíduos e o meio ambiente adaptam-se mutualmente” (Capra, 2006: 55).

“Todo sistema de vida também se defronta ocasionalmente com pontos de instabilidade (em termos humanos, pontos de crise e confusão), dos quais surgem espontaneamente novas estruturas, formas e padrões. Esse surgimento espontâneo da ordem é uma das características da vida e é onde vemos que a criatividade é inerente a todos os níveis de vida” (Capra, 2006: 56).

“Uma das justificativas mais importantes para a utilização da ciência ecológica é a sua capacidade de reconhecer a hora apropriada para o surgimento de novas formas e padrões” (Capra, 2006: 56-57).

“Não é exagero dizer que a sobrevivência da humanidade vai depender da nossa capacidade, nas próximas décadas, de entender corretamente esses princípios da ecologia e da vida. A natureza demonstra que os sistemas sustentáveis são possíveis. O melhor da ciÊncias moderna está nos ensinando a reconhecer os processos pelos quais esses sistemas se mantêm. Cabe a nós aprender a aplicar esses princípios e criar sistemas de educação pelos quais as gerações futuras poderão aprender os princípios e aprender a planejar sociedades que os respeitem e aperfeiçoem” (Capra, 2006: 57).

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Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

One thought on “Fichamento de artigo de Fritjof Capra: Falando a linguagem da natureza

  • 02/05/2009 em 09:52
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    Creio que esse principio da interdependência foi muito bem elaborado na carta do cacique da tribo Seattle quando detalhou a Teia da Vida…

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