Quantos talentos deixaremos escapar pelos nossos dedos?

Acabei de assistir a um filme (“Ela dança, eu danço”) sobre a história de um rapaz do subúrbio americano com talento pra dança.

Ele e um amigo que tem um irmão menor só fazem merda, roubam carros, quebram coisas.

Entram numa escola de dança e depredaram.

O segurança o pega (os outros escapam) e ele tem que cumprir 200 horas de serviços comunitários no local do delito, ou seja, na escola de dança.

O rapaz tem talento pra dança, o que já se mostrou no filme, nos bailes do bairro.

Ele acaba ajudando uma moça, a mocinha, a ensaiar para sua prova final, visto que seu parceiro se machucou.

O filme se passa com as idas e vindas típicas de uma película como essa, entre elas os tapanacaras que a vida dá em muita gente – neste caso a morte do irmão menor do amigo, que eles mesmos ensinaram a fazer muita besteira, quando roubou o carro de um bandido, sem saber que era.

No final do fime – com final feliz, como eu gosto – ele e a mocinha dançam na final, ele é aceito na escola como aluno, ela é aceita numa escola de dança, blá blá blá.

Fico pensando… (ô peste esse, o pensamento!)…

Quantos talentos deixaremos escapar para as merdas da vida?, para as mortes prematuras?, para o tráfico? (ninguém tem “talento” pra isso!).

Quantos passarão por nós e não veremos? Quantos talentos serão desperdiçados, e com eles a vida de quem o tem?

No filme ele só foi “descoberto” por uma sucessão de acasos.

Por que a escola não tem um olhar atento e um trabalho profundo nos talentos?

A escola deveria ser, mais que uma fábrica de bonecos iguais em série, um local de aprofundamentos das diferenças: quem sabe desenhar, dançar, escrever, atuar, jogar etc.ar, deveria ser estimulado a tal.

Simples.

Declev Dib-Ferreira

Declev Reynier Dib-Ferreira sou eu, professor, biólogo, educador ambiental, especialista em EA pela UERJ, mestre em Ciência Ambiental pela UFF, doutorando em Meio Ambiente pela UERJ. Atuo como professor na rede municipal de educação do Rio de Janeiro e também na Fundação Municipal de Educação de Niterói (FME), no Núcleo de Educação Ambiental (NEA). Sou coordenador de educação da OSCIP Instituto Baía de Guanabara (IBG) e membro/facilitador da Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro (REARJ)... ufa! Fiz este blog para divulgar minhas idéias, e achei que seria um bom espaço para aqueles que quisessem fazer o mesmo, dentro das temáticas educação, educação ambiental e meio ambiente. Fiz outro blog, com textos literários (http://hebdomadario.com), no qual abro o mesmo espaço. Divirtam-se.

8 thoughts on “Quantos talentos deixaremos escapar pelos nossos dedos?

  • 09/06/2008 em 13:58
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    Porque “escola” virou um triste arremedo de escola. Porque se tornou obrigatório e até pecuniariamente recompensado os pais meterem os filhos em uma “escola”. Porque dois terços do que ensinam em uma “escola” não têm aplicação prática imediata (e um bom terço, nem futura…) e não é possível alguém se interessar por estudo, sem entender “por que eu tenho que aprender isso”. Porque os professores são mal preparados e os abnegados que tentam se manter atualizados não são incentivados. Porque as “escolas” não têm condições mínimas de ensinar, nem àqueles raros que gostam de aprender.

    E, essencialmente, porque não interessa às elites que a “plebe ignara” deixe de ser “ignara”.

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  • Pingback: Concurso de Poesias para Superdotados | Carioca no Cerrado

  • 09/06/2008 em 22:58
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    Pois é João,

    Mas acabo percebendo que, muitas vezes, a escola não muda por conta de quem trabalha lá dentro!

    É difícil disser isso, mas em primeiro lugar, deixamos muitas vezes acontecer; em segundo, quando podemos mudar, não fazemos, porque “dá trabalho”.

    Tenho dito ultimamente, e porei isto em um novo artigo não muito distante, “tire o quadro negro (hoje verde) da sala” e os professores irão à loucura!

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  • 09/06/2008 em 23:57
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    Palmas para você!!! A “lousa” (para remontar a suas origens arcaicas) é uma praga!… Mas isso se enquadra no que eu disse sobre as escolas terem se transformado em tristes arremedos.

    “Meios auxiliares” ainda são giz, apagador e o onipresente “quadro negro” (os primeiros verdes, eu fui conhecer no Curso Científico… modernos, curvos… e igualmente chatos…)

    Curioso é que a apresentação dos livros escolares mudou (eu estudei álgebra nos FTD/FIC da vida…), mas a sala de aula continua a mesma, se você der o desconto de que carteiras de fórmica e plástico não diferem muito das de madeira…

    Mas nem pense em falar em “superdotados”… Isso é “politicamente incorreto”!… Neste Brasil, “talento” é coisa para desportista… 🙁

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  • 17/06/2008 em 16:46
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    Olá João,

    Estive meio parado de escrever por aqui, por isso a demora na resposta. São tantas coisas que a gente faz ao mesmo tempo para poder ir além de sobreviver…

    Como íamos dizendo, o quadro é uma praga! Uma sala de aula, no inconsciente coletivo, é um quadro negro (ou verde, ou branco) e carteiras enfileiradas viradas para este.

    Quebro com este paradigma na minha escola. Não facilmente, mas quebro. Nem uso o quadro, que serve para anotar recados.

    Mas voltando ao post, quando falo de “talentos” não falo só dos superdotados. Falo de todos os alunos que têm algum talento. Simples assim.

    Superdotados podemos dizer que são mais raros e até aparecem mais – apesar de não termos políticas voltadas para eles (eu não as conheço).

    Estou falando daquele aluno que sabe e gosta de desenhar; que sabe jogar bola bem; que gosta de ler e escrever ficções; que sabe grafitar uma parede como ninguém; que canta rap; que dança bem…

    Qual a dificuldade de aprofundar estes talentos, ao invés de achar que ele tem que saber o que são rochas metamórficas? (ou paralelamente a isso?).

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